A precariedade dos tempos atuais está hoje em reflexão em Fátima na jornada nacional da pastoral da cultura.
Na abertura do evento, o Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais lembrou que os tempos que correm têm vindo a ser marcados pela pandemia de Covid-19 e pela guerra.
Considerando que “nada do que é humano é alheio às preocupações da Igreja”, D. João Lavrador alertou que “perante esta causa que afeta tão profundamente a humanidade do nosso tempo, urge tomá-la a sério, refleti-la para nela atuar em benefício da pessoa humana.”
O prelado lembrou uma passagem do Concílio Vaticano II, que refere que «a humanidade vive hoje uma fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se estendem progressivamente a toda a terra”.
Por outro lado, “nunca o género humano teve ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio económico” enquanto “uma imensa parte dos habitantes da terra é atormentada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda os analfabetos”.
Um momento atual que D. João Lavrador descreve como de “grande imprevisibilidade e precariedade”, o que o leva a defender a necessidade de a Igreja e os cristãos se virarem para o que é importante.
“Estamos a desperdiçar esforços em coisas que não são essenciais”, lamentou o bispo de Viana do Castelo, em declarações à Renascença, reconhecendo que “temos imensas atividades e andamos preocupados com milhentas coisas”.
Diz ser urgente “descobrir o rosto de Jesus de Nazaré e nele o amor de Deus pela humanidade”. Isso, aponta o bispo, “transforma a nossa existência e provoca-nos”, ativando uma “necessidade absoluta de realização pessoal numa comunidade cristã”.
“Penso que é algo fundamental e não podemos desperdiçar tempo”, salientou o Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais da Igreja.
Lidar com conflitos sem ser pela força das armas
Num dos painéis da jornada da pastoral da cultura, a diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, defendeu que “é urgente aprender a lidar com os conflitos sem ser pela força das armas e da destruição massiva e infundada.”
Eugénia Quaresma salientou a importância de se “construir políticas que defendam a emigração como um direito e que reconheçam o lado de esperança e de cidadania ativa.”
Por outro lado, “é urgente promover o desenvolvimento, defendendo o direito a não emigrar”, considerou.
Recuperar o essencial do método cristão
Para o ex-ministro da economia, António Bagão Felix, outro convidado da jornada nacional da Pastoral da Cultura, é preciso “recuperar o essencial do método cristão”.
Isto é, “a partir do nosso interior, tentar transformar não apenas nós, mas aqueles que estão junto de nós”. “Esta é a principal luta contra a precariedade”, concluiu o ex-governante, que fez questão de dizer, no início da sua intervenção, que falava enquanto cristão e não enquanto ex-ministro.
Lamentando o facto de andarmos “obcecados com o urgente”, como “chegar depressa aquele sítio, ir buscar o filho à creche”, Bagão Felix frisou que “temos de respirar e dar outra dignidade àquilo que é importante nas nossas vidas”. “Ao darmos dignidade ao que é importante nas nossas vidas”, considerou Bagão Felix, “estamos a dar importância ao que é importante na vida dos outros.”.
A jornada nacional da Pastoral da Cultura junta este sábado em Fátima perto de meia centena de pessoas ligadas à área da cultura e artes.