Vladimir Putin, antigo agente do KGB, é presidente da Rússia desde 2000. Formalmente, entre 2008 e 2012 ocupou o cargo Dmitri Medvedev, trocando com Putin, que ficou quatro anos primeiro ministro. Mas essa formalidade não escondia quem realmente mandava na Rússia – e era Putin.
Agora, com as alterações constitucionais aprovadas no parlamento russo (totalmente dominado por deputados afetos a Putin) e com o referendo ontem finalizado, Putin poderá manter-se presidente até 2036. A grande força política interna deste personagem tem a ver com ele tudo fazer para ultrapassar, ou pelo menos reduzir, a frustração dos russos por o seu país ter perdido a guerra fria e ter passado de superpotência, a par com os EUA, para uma mera potência regional. A luta por anular esta frustração de ter caído na "segunda divisão" inclui o domínio do poder político sobre a comunicação social, em particular a TV, onde se contam as mais inverosímeis histórias. E é óbvia a intervenção russa na internet, difundindo notícias falsas em tempo de eleições, incluindo as dos EUA.
Os líderes ocidentais não compreenderam que seria contraproducente humilhar os russos. E que os russos, que jamais viveram em democracia, não ficam muito incomodados por o seu país ter um regime autoritário, que não respeita as liberdades, nomeadamente a liberdade de expressão, nem os direitos humanos. E até apreciam que Putin tenha atacado – e mesmo assassinado – alguns riquíssimos oligarcas, que fizeram fortuna com a caótica privatização de boa parte da economia do país.
Putin é frequentemente elogiado por políticos ocidentais de extrema-direita, como Marine Le Pen. E o primeiro ministro da Hungria, Viktor Orbán, que em tempos combateu o comunismo soviético, hoje aproxima-se de Putin no desprezo pela democracia liberal – ele classifica orgulhosamente o seu regime húngaro de “democracia iliberal”.
Políticos como Trump e Bolsonaro são também aliados objetivos de Putin na luta deste contra a democracia liberal. Combate em cuja primeira linha está a China, que Xi Jinping fez regressar ao regime opressivo de Mao, agora de novo glorificado no país. E talvez seja da China que venham os principais obstáculos ao nacionalismo russo. Problemas na Sibéria, por exemplo.