Cândida Almeida. Suspeita sobre Costa em dia de Congresso do PS é "coincidência extraordinária"
05-01-2024 - 19:25
 • Pedro Mesquita

Antiga diretora do DCIAP alerta para agentes de "desinformação" em tempo de pré-campanha, interessados "em criar este ambiente de mistura explosiva entre a justiça e a política", e considera que alegadas suspeitas contra o primeiro-ministro "não são nada".

As alegadas suspeitas do Ministério Público (MP) sobre António Costa na Operação Influencer, noticiadas esta sexta-feira, "não são nada" e "não dão em nada", afirma à Renascença Cândida Almeida, antiga diretora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).

Cândida Almeida considera, por outro lado, uma extraordinária coincidência que esta notícia seja conhecida no dia em que começa o congresso do Partido Socialista.

Que leitura faz das suspeitas de prevaricação que são apontadas ao primeiro-ministro, António Costa?

Para mim, e com os dados que me está a dar, isto não é nada. É apenas coscuvilhice e, nesta altura do campeonato, em que há uma pré-campanha eleitoral, isso é mais para essa área das campanhas de desinformação do que propriamente um indício de crime. Isso não é nada, não dá em nada.

O ex-secretário de Estado e advogado João Tiago Silveira teria sido escutado a dizer a Rui Oliveira Neves, administrador da empresa Start Campus, que esteve quatro horas a falar com o primeiro-ministro, e que ele estava “completamente entusiasmado com isto” e que “isto” seria, segundo o Ministério Público, uma lei feita à medida...

Eu não sei que mais indícios, que mais meios de prova existem. Com isso que me está a dizer, isso não é nada. E a pessoa pode estar a falar quatro, cinco horas… é natural, porque estão a aprovar um projeto, um diploma de uma de uma lei para apresentarem. E que a pessoa que está lá esteja entusiasmada com a lei, e com o resultado que ela pretende obter, é natural. É natural que esteja entusiasmado, o contrário é que seria de estranhar. Para já, essas notícias não são nada. Eu lamento imenso que continue esta fuga de informação cirúrgica e desinserida do contexto, porque não é nada.

E parece-lhe que vem do Ministério Público?

Sinceramente, não faço ideia. Sei que estou muito desgostosa e, se o for, lamento muito porque eu acredito cegamente nas intenções, no objetivo de justiça, de objetividade e de legalidade do Ministério Público.

Mas há aqui uma outra questão. Não sei se é coincidência, ou não, mas esta notícia salta para a comunicação social - de alegadas suspeitas de prevaricação do primeiro-ministro - justamente no dia em que começa o Congresso do Partido Socialista.

Pois sim. Coincidência. Uma coincidência extraordinária.

Mas é no mínimo suspeita essa coincidência, não?

Estou a ser um bocadinho cínica.

Há uma tentativa de instrumentalização por parte do Ministério Público?

Não. Como lhe disse, acredito no Ministério Público. Neste momento, todas essas escutas, em todos os elementos do processo que foram importantes para os advogados, para os arguidos se defenderem, estão na mão de muita gente. Inclusivamente em mãos que não têm nada a ver com a Justiça. Pelo menos o que me disseram.

Por pessoas que podem não utilizar isso para o bem, mas apenas para criar este ambiente de mistura explosiva entre a justiça e a política. Peço a todos os democratas que pensem nisso, porque estamos assim no 50.º aniversário do 25 de Abril, da liberdade e da responsabilidade da informação.

E quem está a tentar fazer isso, na sua leitura?

Na minha leitura, é só aquele interessa que isto corra mal, que as instituições do Estado, o próprio Estado, Governo, órgãos de soberania estejam em confusão e que a democracia não está a satisfazer as pessoas.

Ou seja?

Ou seja… tire a conclusão, por favor.