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A diretora-geral da Saúde reconhece que já pensou em desistir das funções que desempenha, no quadro das dificuldades relacionadas com a gestão da pandemia de Covid-19.
“Tenho momentos em que acho que vou desistir, que estou muito cansada, que foi, de facto, um ano muito intenso e que outras pessoas poderão fazer melhor, mas isso não dura muito tempo”, admitiu Graça Freitas esta quinta-feira no programa ‘Grande Entrevista’ na RTP 3.
No entanto, “são momentos que são substituídos rapidamente por uma vontade enorme de continuar a trabalhar”, acrescentou Graça Freitas.
Questionada sobre a capacidade das autoridades de saúde para fazer face ao aumento de novos casos de infeção, a responsável reconheceu que, tendo em conta a informação disponível em cada momento, as decisões foram “as mais acertadas”, mas admitiu, contudo, que “algumas decisões poderiam ter sido diferentes, sobretudo antecipando algumas consequências da epidemia.”
Fazendo a retrospetiva de um ano de combate à pandemia, Graça Freitas disse que “foi tudo muito exuberante, muito intenso, muito vivido”.
Projetando o que poderá ser o futuro, a diretora-geral da Saúde admitiu que Portugal pode voltar a enfrentar uma nova vaga da pandemia nos próximos meses, mesmo com a atual campanha de vacinação em curso.
“Uma nova escalada do vírus está em cima da mesa, mesmo com a vacina”, reconheceu Graça Freitas, lembrando que “o vírus sofre mutações. Não estamos livres disso, apesar da vacina. E não sabemos quanto tempo vai durar a imunidade, se vai proteger contra novas variantes ou como vai funcionar a imunidade natural”.
Questionada sobre os critérios de avaliação que devem orientar a definição do plano de desconfinamento, Graça Freitas realçou a diversidade de metodologias adotadas entre os países e salientou que não existe uma “receita” única pela qual todos podem copiar. Porém, não deixou de apontar a primazia de quatro critérios.
“Os quatro indicadores que estão a ser mais ponderados - e que não excluem outros - são: incidência cumulativa a 14 dias, taxa de positividade, ocupação de camas em unidades de cuidados intensivos e o Rt [índice de transmissibilidade]”, frisou. A este nível, sublinhou que Portugal está com um Rt “baixo” e com “uma taxa de positividade inferior a 4%”, mas relembrou a situação preocupante em internamentos e confessou que é ainda preciso “baixar um bocadinho” a incidência.
“Temos de consolidar todos estes valores e esperar ainda que alguns deles melhorem. Gostaríamos que a incidência baixasse mais para termos mais conforto. É preciso ter alguma cautela. Estes desconfinamentos nos outros países também estão a ser faseados”, notou.
Entre as maiores preocupações do confinamento está o encerramento das escolas e as consequências que esta situação pode ter nos alunos, com Graça Freitas a vincar que “a cautela aconselharia a que fosse uma abertura faseada, começando pelos graus de ensino com alunos mais novos”, embora tenha assinalado que não é uma decisão da sua responsabilidade.
A responsável da DGS assegurou que está previsto o arranque da testagem nas escolas com a retoma das atividades letivas e que os rastreios podem ser alargados em função do que for encontrado, mas deixou uma mensagem aos especialistas que defendem a testagem maciça como a solução para o combate à pandemia: “Os testes não são tratamentos nem vacinas”.
Já sobre a vacinação, Graça Freitas reconheceu que “o primeiro trimestre vai ficar aquém das expectativas”, por força da falta de disponibilidade de vacinas, mas mostrou esperança no cumprimento da meta de 70% da população do país vacinada até final de agosto. Quanto a um eventual alargamento da utilização da vacina da AstraZeneca a pessoas com mais de 65 anos, a diretora-geral da Saúde não exclui a revisão que já está a avançar em alguns países.
“À medida que vamos tendo mais informação de outros países, não o pomos de parte, porque permite vacinar mais rapidamente grupos mais velhos”, disse.