Já foram aprovadas os dois troços da primeira fase da linha de alta velocidade entre Porto e Lisboa. Contudo, as localidades mais afetadas têm demonstrado resistência e oposição.
Porque é que as pessoas estão contra o TGV?
Há razões diferentes. Em Estarreja, a população de Canelas e Fermelã uniu-se contra o projeto porque há muitas casas que vão ser destruídas, e os proprietários consideram que as indemnizações não compensam. Por outro lado, questionam a opção pela bitola ibérica, que consideram que vai isolar o país.
E também há questões ambientais. A linha de alta velocidade vai atravessar a união de freguesias por duas vezes, já que a interligação com a Linha do Norte fica em Canelas. Essa interligação vai ter grandes impactos na Zona Ecológica Protegida do Baixo Vouga Lagunar, dentro da Zona Especial de Conservação da Ria de Aveiro.
Mas já se sabe quantas pessoas é que vão perder as suas casas?
Segundo os estudos de impacte ambiental produzidos para a avaliação dos dois troços da primeira fase da linha de alta velocidade, quase 200 famílias podem ser afetadas. Embora a empresa Infraestruturas de Portugal estime que este é o número máximo, e acredite que no final haja menos famílias - e habitações - afetadas.
Nesta primeira fase, estamos a falar de aproximadamente 150 quilómetros, entre a estação de Campanhã, no Porto, e Soure, perto de Pombal.
E quanto é que as pessoas que vão ficar sem casa recebem?
O valor das indemnizações ainda vai ser definido por um grupo de peritos do Ministério Publico, mas já há dúvidas. O presidente da união de freguesias de Canelas e Fermelã receia que não paguem o real valor das casas, porque os preços na construção civil estão constantemente a crescer.
A empresa Infraestruturas de Portugal garante, no entanto, que os valores de mercado vão ser considerados, tendo em conta as últimas transações imobiliárias na zona.
Se o proprietário concordar com o valor, a indemnização é paga de imediato. Se não concordar, o montante é depositado à ordem do tribunal, que será responsável por definir o valor final a pagar.
A linha já está a ser construída?
Ainda não. Ainda estamos na fase dos estudos.
O que está previsto é que o concurso público para o projeto de execução, construção, disponibilização e manutenção do primeiro troço - entre Campanhã e Oiã - seja lançado em janeiro. Mas, como o Governo caiu, não há certezas.
A próxima fase da linha Porto - Lisboa a ser colocada em consulta pública será o troço entre Soure e Carregado. O que deverá acontecer no 2º trimestre de 2024.
Se tudo correr como planeado, em 2029 teremos comboios de alta velocidade a circular até Soure. E dois anos depois já podemos viajar até ao Carregado. A ligação Porto - Lisboa estará concluída em 2035.
Então e quando chegamos a Soure na 1ª fase, e depois ao Carregado, o que é que acontece? Vamos a pé?
Não! O TGV entra na atual Linha do Norte, e fazemos o resto do percurso à velocidade a que fazemos agora - ou seja, no máximo a 220 km/h - enquanto no percurso novo, o comboio anda a 300 km/h.
E quando estiver tudo pronto é a CP que vai ficar responsável pelos comboios?
Não obrigatoriamente, ou não em exclusivo.
O que está previsto com a chegada do TGV é que a liberalização do serviço ferroviário, que já existe no papel, passe à prática. Ou seja, podemos ter operadores privados e de outros países a assegurarem as viagens. Só para dar alguns exemplos, a Barraqueiro já formalizou o interesse, e há rumores de que a espanhola Renfe também pode entrar no negócio.