Para o secretário-geral das Nações Unidas, há uma conversa que não tem ponta por onde se lhe pegue: a que diz que podemos interromper e parar com a inovação. “Temos de evitar a reacção estúpida de tentar parar a inovação. Isso é estúpido porque é impossível”, disse António Guterres no primeiro dia da Web Summit 2017, em Lisboa.
O caminho, para o ex-primeiro-ministro português, é combinar energias para discutir os problemas que temos e perceber “como é que podemos juntar as nossas forças para criar um mundo melhor”.
Ora, a tecnologia pode ser o motor para aquilo que qualquer miss Universo quer, mas Guterres avisa que o caminho é sinuoso. A tecnologia pode ser usada para o melhor ou para o pior. Deu exemplos: a genética trata doenças ou cria monstros; o ciberespaço recruta terroristas ou apanha-os.
A questão, para o ex-primeiro-ministro português, é como pôr a tecnologia do lado bom da força. Para isso, Guterres quer evitar a abordagem ingénua de considerar que a regulação actual para as tecnologias pode resolver o problema.
“Os mecanismos de regulação que temos não são suficientes para dar resposta. Os mecanismos de regulação do futuro terão de ser diferentes. Temos de combinar governos, cientistas, mas também a sociedade civil, a academia, e estabelecer plataformas de discussão”, sublinha o secretário-geral da ONU.
E põe a questão: “Como podemos assegurar que a inovação é uma força usada para o bem?”. Talvez seja a pergunta para um milhão de dólares, mas Guterres arrisca uma: “Temos de olhar para o futuro próximo com uma visão estratégica, que combine a actuação de governos, sociedade civil, sector privado e academia para que a inovação tecnológica seja uma força para o bem".
“Aprender a aprender”
O líder das Nações Unidas frisou ainda que a tecnologia traz desafios que temos de antecipar. "Esta quarta revolução industrial terá um impacto dramático nas sociedades e na nossa maneira de viver nos mercados, por isso é importante antecipar o impacto da evolução tecnológica", disse.
Deu o exemplo dos Estados Unidos, onde vive, em que conduzir é a actividade que mais emprega no país. Dentro de pouco tempo pode estar reduzida a nada, se os carros sem condutores avançarem e se massificarem.
Para o secretário-geral da ONU isso obriga a que haja um esforço ao nível da educação para que os jovens aprendam o processo e não algo em específico. Só assim poder-se-ão adaptar às sucessivas mudanças que vão enfrentar ao longo da vida.
"Não é aprender a fazer coisas, mas sim aprender a aprender, porque as coisas que fazemos hoje não são as coisas que faremos amanhã", rematou o secretário-geral da ONU.
A Web Summit decorre até quinta-feira, no Altice Arena (antigo Meo Arena) e na Feira Internacional de Lisboa (FIL), em Lisboa.
Segundo a organização, nesta segunda edição do evento em Portugal, participam 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil “startups”, 1.400 investidores e 2.500 jornalistas.
A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Lisboa por três anos, com possibilidade de mais dois de permanência na capital portuguesa.