Duarte Gomes sugere "exclusão de quem manifestamente não tem competência" para ser VAR
27-02-2023 - 18:26
 • Luís Aresta , Inês Braga Sampaio

Antigo árbitro assume que têm sido cometidos erros graves, nas últimas semanas, mas exclui dualidade de critérios ou premeditação. Motivos podem ir da desconcentração à negligência, passando por "incompetência pura" para a função.

O antigo árbitro de futebol Duarte Gomes defende que o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol deve excluir do videoárbitro (VAR) aqueles que não têm competência para a função.

A jornada 22 do campeonato foi rica em casos, especialmente no FC Porto 1-2 Gil Vicente, com vídeoarbitragem de Tiago Martins, e no Vizela 0-2 Benfica, de António Nobre. Em declarações a Bola Branca, e sem particularizar estes dois casos, Duarte Gomes admite que, nas últimas jornadas, "tem havido meia dúzia de erros muitíssimo evidentes que não podem acontecer".

O antigo árbitro exclui "por completo" que haja atuações premeditadas, no sentido de beneficiar este ou aquele clube", contudo, assume que é necessário filtrar, para ficar com os melhores: "É, se calhar, oportuno o CA perceber porque estão a acontecer e o que deve ser feito para evitar, nem que passe pela exclusão de pessoas que manifestamente não têm competência para estar em sala."

"Esta geração de árbitros não comete erros premeditados. E digo-o à boca cheia, até que, infelizmente, e espero que não, algum caso ou alguma prova me venha garantir o contrário, o que seria lamentável. Até prova em contrário, os árbitros são sérios. Agora, alguns têm competências diferentes? Sim. alguns têm mais jeito do que outros? Sim. Alguns têm mais experiência e personalidade na ferramenta do que outros? Sim. E é preciso filtrar a qualidade para ficar com os melhores", acrescenta.

Desconcentração, negligência ou pura incompetência


Duarte Gomes identifica os fatores que, na sua opinião, podem estar na origem de erros de vídeoarbitragem incompreensíveis. Pode ser falta sensibilidade, incapacidade de "extrapolar a competência" no relvado para a sala, "desconcentração", "conformismo", uma certa "negligência", ou, até, "incompetência pura, não ter jeito para a função".

"Qualquer uma delas é grave, porque, em alta competição, isto não pode acontecer. Já passámos da fase em que estávamos no ano zero e no ano um, em que estávamos todos a aprender. O VAR já tem a sua maturidade alcançada. Neste nível, há erros que não podem acontecer, sob pena de descredibilizar toda a imagem da arbitragem e o papel dos outros árbitros que, de facto, tomam boas decisões", sustenta.

Duarte Gomes descarta a possibilidade de dualidade de critérios e aponta, ao invés, para falta de coerência e consistência nas decisões.

"Ao longo do campeonato, temos tido intervenções ou não intervenções diferenciadas em lances semelhantes? Sim. Não tem havido a consistência que era desejável nesta altura, em que já temos muitos anos de VAR. Merece reflexão na estrutura da arbitragem", reconhece.

Conselho de Arbitragem tem de "ser sensível"


Embora defenda que o CA deve manter o rumo definido e não pode deixar "a crítica exterior abanar", Duarte Gomes também considera que "é preciso ser sensível ao que está a acontecer", independentemente da "dramatização" de alguns clubes. O antigo árbitro lembra que, recentemente, a Premier League excluiu um dos seus árbitros mais antigos, ao perceber que a sucessão de erros o justificava.

"É preciso, às vezes, tomar decisões deste género", atira.

Após o FC Porto-Gil Vicente, o presidente dos dragões, Jorge Nuno Pinto da Costa declarou, com ironia, que a lição desta jornada é de que se acabe com o VAR. Já Sérgio Conceição queixou-se de falta de equidade na visualização de lances, tendo pedido maior rigor.

As declarações do presidente e do treinador do FC Porto estão a ser analisadas pela Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol. Ao que Bola Branca apurou, o organismo irá enviar uma participação ao Conselho de Arbitragem.