O padre Paulo Terroso, membro da Comissão de Comunicação do Sínodo dos Bispos, não tem dúvidas de que se está numa fase de mudança" na vida da Igreja, mas acredita no diálogo e num trabalho de comunhão.
"Estou convencido de que estamos numa fase de mudança", diz o sacerdote à Renascença, a dois dias do início da 16.ª assembleia geral do Sínodo, no Vaticano.
Paulo Terroso reconhece que existe "resistência à mudança" e "algumas dificuldades e tensões" no decurso dos trabalhos, mas considera "muito exagerado" falar-se da possibilidade de um "cisma" por causa das "reformas em curso".
“Parece-me que não devemos estar a usar essa bomba atómica eclesial”, enfatiza.
Para o padre Terroso, os trabalhos estão que começam na próxima quarta-feira e se prolongam até dia 29 encontram-se “numa fase determinante".
"Por isso, vivo com alegria, vivo com entusiasmo (...) aquilo que o Espírito Santo tem a dizer à Igreja."
Como está a viver estes dias que antecedem o arranque da Assembleia Geral? Que expectativas tem?
Pela primeira vez, temos as madres sinodais com direito a voto, temos um novo espaço que é a Sala Paulo VI, onde vai decorrer o Sínodo. O Sínodo não vai decorrer na ala sinodal, como habitual, no anfiteatro onde a hierarquia da Igreja está disposta hierarquicamente. Quer dizer que tem sido feito um grande percurso.
Esta é uma fase determinante, mas é a primeira de duas assembleias. Por isso, vivo com alegria, vivo com entusiasmo e também como um momento de oração e de escutar aquilo que também o Espírito Santo tem a dizer à Igreja e aos participantes do Sínodo.
O momento é muito importante e nele sentem-se algumas resistências à mudança. Há risco de cisão, como noutros tempos?
É um fantasma que se acena e não sei se isso ajuda para o diálogo que se quer e para a discussão séria dos temas que estão sobre a mesa. O pensar em algo como um cisma na Igreja... Vmos lá dar nome às coisas: quando pensássemos isso, devemos sentir assim uma dor de alma, um cortar de coração. A coisa que mais pode ferir a Igreja, de facto, é a divisão e o conflito. É tudo isso. Portanto, acho isso absolutamente exagerado.
Percebo o realismo e percebo também dificuldades quando entramos em alguns temas mais específicos e problemáticos. Agora isso [falar de um cisma] parece-me mais de mau espírito e parece-me, sobretudo, que se algum risco houver nesse sentido é porque não fomos capazes de escutar a voz do Espírito.
Não foram capazes de congregar?...
De congregar, precisamente. De sermos capazes de chegar a um consenso. Portanto, de todo, não é a vontade de ninguém em dividir. Parece-me que não devemos estar a usar essa “bomba atómica” eclesial, deixe-me dizer assim.
Devemos, simplesmente, colocarmo-nos verdadeiramente com espírito humilde, no diálogo uns com os outros e na escuta da voz do Espírito Santo. De modo algum esse [um cisma] será o desfecho.
Há um caminho que está a ser percorrido, há dificuldades e tensões, elas nunca foram negadas nem sequer escondidas. Por isso, acredito profundamente no trabalho que vai ser desenvolvido, que vai ser de uma maior comunhão, de uma participação e de um renovar das forças para a missão.
Serão dores de crescimento?
São dores de parto, isso sim. Mas elas existem desde o início da vida da Igreja. As dificuldades também foram sentidas, por exemplo, no primeiro concílio de Jerusalém com a questão de circuncidar ou não circuncidar aqueles que tinham recebido o batismo. E hoje ninguém coloca essa questão: se devemos ou não ser circuncidados, a questão está completamente ultrapassada.
Isto para dizer o quê? A mudança acontece, a necessidade de responder às necessidades ou às perguntas que a nossa cultura vai colocando é permanente na vida da Igreja. São sempre momentos de tensão e de alguma crise, até poderíamos dizer assim, mas é sempre possível ultrapassá-las.
Às vezes, alguns dos nossos irmãos que não compreendem, resistem e permanecem cristalizados no tempo. Mas esta é a vida da Igreja. Eu estou convencido de que estamos numa fase de mudança, de uma grande reforma que já está em curso e, portanto, o Evangelho é mudança, e é caminho que vamos fazendo em conjunto com mais ou menos dificuldade.