A Aliança Evangélica convida os seus membros em Portugal a orar para que Marcelo Rebelo de Sousa e o Tribunal Constitucional consigam evitar a aplicação da lei da eutanásia, que foi aprovada no Parlamento na passada sexta-feira, dia 29 de janeiro.
Num comunicado publicado este domingo, a organização deixa duras críticas aos deputados que aprovaram a lei e diz que muitos cristãos se sentem traídos porque votaram em partidos que não referiram a eutanásia nos seus programas eleitorais e depois aprovaram-na.
“Como Aliança, convidamos os cristãos a orarem para que o Senhor Presidente da República, sensível a esta matéria, tudo faça para que uma lei com tão reduzida aceitação em Portugal não seja colocada em prática, assim como para que o Tribunal Constitucional defenda o princípio da inviolabilidade da Vida Humana, ao invés de defender a frágil autonomia de uma pessoa em sofrimento, tão permeável ao aproveitamento de interesses externos”, diz o comunicado.
“Nas eleições legislativas, poucos foram os partidos que se apresentaram a eleições com a proposta de legalização da eutanásia. Por isso, muitos cristãos que votaram nesses partidos que agora viabilizaram e aprovaram a eutanásia no parlamento, sentem-se enganados. Pelo que, manifestamos a nossa discordância com esta prática tão pouco democrática e desprestigiante da nossa política.”
A Aliança Evangélica reúne muitas das comunidades e igrejas evangélicas e protestantes que existem em Portugal e foi uma das subscritoras de uma declaração conjunta com outras comunidades religiosas a condenar a eutanásia.
O comunicado divulgado este domingo refere ainda o facto de esta lei ter sido aplicada precisamente no período em que o número de mortes em Portugal por Covid-19 está mais alto desde o início da pandemia.
“Num tempo em que tantos e tantos profissionais se dedicam de alma e coração a cuidar e a tratar, ultrapassando todos os limites físicos e emocionais, eis que uma maioria ‘tão frágil’ na Assembleia da República aprova uma lei que não nos coloca no caminho do progresso, mas, muito pelo contrário, no caminho de práticas que nos envergonham.”
“No mesmo dia em que o Parlamento decide renovar o Estado de emergência que obriga pessoas a fechar negócios, a usar meios de proteção, a deliberar a possibilidade de consentir a sua própria morte. Terrível paradoxo e incongruência que vivemos!”, escreve ainda a Aliança.
Por fim, o grupo representativo dos evangélicos em Portugal recorda que todos os pareceres de grupos especializados na matéria foram ignorados pelo Parlamento.
“No decurso do trabalho desenvolvido na preparação do atual texto legal, muitos foram os organismos que apresentaram discordância com a aprovação desta lei, mas foram ignorados, tais como a Ordem dos Médicos, a Ordem dos Enfermeiros, o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, a Federação Portuguesa pela Vida, entre outras, dos quais gostaríamos de destacar a declaração conjunta das principais religiões do Mundo com presença em Portugal, subscrita também pela Aliança Evangélica Portuguesa. A acrescer aos esforços de todos estes organismos, não podemos deixar de sublinhar que mais de 100.000 cidadãos assinaram a pedir um referendo sobre esta matéria, ou qual não foi aceite pelo Parlamento!”
Os evangélicos portugueses juntam assim a sua voz à da Igreja Católica, cujos bispos se mostraram indignados pelo que consideraram ser um retrocesso civilizacional sem precedentes.
A lei aprovada segue agora para Belém, onde Marcelo Rebelo de Sousa terá de decidir se promulga, veta ou envia para o Tribunal Constitucional.