Morreu o espanhol Joaquin Navarro-Valls, porta-voz do Vaticano durante 22 anos, no tempo do Papa João Paulo II e também durante 16 meses no pontificado de Bento XVI.
A notícia foi confirmada por Greg Burke, o actual porta-voz, na sua conta oficial no Twitter.
Navarro-Valls, de 80 anos, foi o primeiro leigo e o primeiro não italiano a ocupar o cargo.
Médico psiquiatra de formação, mas também actor de teatro e jornalista, espanhol e membro do Opus Dei, Joaquin Navarro-Valls foi director da Sala de Imprensa do Vaticano e porta-voz do Papa durante duas décadas.
Foi um homem decisivo na relação com os jornalistas e, sobretudo, na projecção mediática e comunicação do Papa Wojtyla.
Navarro-Valls introduziu um novo estilo nas relações entre a Santa Sé e os jornalistas, relações que até então bastante rígidas e clericais.
O seu protagonismo levou-o, inclusivamente, a integrar delegações vaticanas em contextos diplomáticos difíceis, como aconteceu com uma ida a Moscovo ao lado do cardeal Casaroli, a Cuba, para negociar com Fidel Castro a primeira visita de João Paulo II e também integrou as missões da Santa Sé nas conferencias mundiais da ONU, no Cairo, Pequim e Istambul.
Ainda acompanhou Bento XVI, nas mesmas funções, mas retirou-se em Julho de 2011, para se dedicar ao ensino e assumir também a presidência honorária de um hospital privado em Roma.
Marcou várias gerações de vaticanistas e, para os que bem o conheceram, um homem de fé, com grande amor à Igreja e ao Papa.
Amigo recorda o "aventureiro corajoso"
Juan Vicente Boo, correspondente no Vaticano e amigo de longa data de Navarro-Valls, revela num artigo publicado no jornal ABC o lado mais pessoal e desconhecido do antigo porta-voz da Santa Sé.
Nascido em Cartagena, também tinha algo de catalão devido às suas raízes familiares, conta o jornalista espanhol.
“Entendia a importância da evangelização” e chegou a colaborar de perto com Josemaría Escrivá, o fundador do Opus Dei, no final de década de 70 do século passado.
Navarro-Valls abraçou o jornalismo, trabalhou como correspondente em Itália e foi aí que o seu caminho se cruzou com o de João Paulo II.
Em 1984 passa a ser porta-voz da Santa Sé. Torna-se conselheiro e amigo do Papa, acompanhando o Santo Padre, inclusivamente, durante as férias e passeios na montanha, revela Juan Vicente Boo.
Também acompanhou os Papas em quase uma centena de viagens internacionais e “tinha sempre um sorriso e um comentário positivo”, recorda o amigo.
Nos tempos livres, gostava de jogar ténis e de ler biografias de grandes personalidades mundiais. Era apaixonado pelas missões de exploração aos polos Norte e Sul.
Apesar de ser diabético, e de precisar de “tomar injecções com frequência”, era um “aventureiro corajoso”.