O Papa João Paulo I vai ser beatificado no próximo domingo, 4 de setembro, na Praça de São Pedro. O Papa Francisco preside à celebração que eleva aos altares Albino Luciani, antigo patriarca de Veneza, eleito Papa a 26 de agosto de 1978 e cujo pontificado durou apenas 33 dias, morrendo inesperadamente a 28 de setembro desse mesmo ano.
Conhecido pela sua simplicidade e capacidade de acolhimento, muitos testemunham o seu estilo humilde e próximo de toda a gente.
Vários testemunhos relatam o seu estilo simples e discreto de Luciani, sempre preocupado em não dar excessivo trabalho aos seus colaboradores, incluindo as religiosas que cuidavam do serviço doméstico no apartamento pontifício.
A irmã Margherita Martin contou esta sexta-feira aos jornalistas que, um dia, ao vê-la passar cuidadosamente a ferro uma sua camisa, João Paulo I lhe disse para não perder tanto tempo com ele. “O Papa parou junto de mim e disse: Irmã, basta passar os punhos, porque ninguém vê a camisa que trago por baixo da batina”, testemunhou a religiosa.
Em conferência de imprensa organizada pelo Vaticano, Stefania Falasca, vice-postuladora do processo de beatificação, sublinhou que Albino Luciani morreu com fama de santidade e que os 33 dias do seu breve pontificado “são a ponta de um grande icebergue escondido de magistério e importantes ensinamentos”.
Uma das novidades relacionadas com o seu espólio ficará para sempre ligado ao relicário. Ao contrário do habitual nas beatificações, em que se escolhe algum fragmento de osso ou tecido ligado ao corpo do novo beato, desta vez, a relíquia de João Paulo I é um manuscrito. Trata-se de pedaço de papel, com notas a caneta e lápis, escritas por Albino Luciani em 1956, com um esquema para reflexões sobre fé, esperança e caridade. Esquema que ele próprio, mais tarde como Papa, viria a utilizar nas três únicas catequeses do seu pontificado (proferidas nas quartas-feiras de 13, 20 e 27 de setembro).
Uma sua sobrinha, Lina Petri, disse também neste encontro com a imprensa: “Sempre soube que meu tio era pobre; no patriarcado de Veneza, além dos móveis ‘históricos’, não havia nada sumptuoso ou de particular valor. E no mês de seu pontificado, o comportamento sereno e sábio do meu tio permaneceu o mesmo de sempre”.
O milagre de João Paulo I
A inexplicável cura científica de uma criança argentina, Candela Soza, gravemente afetada por uma epilepsia refratária maligna, há cerca de dez anos, foi o milagre reconhecido pela Santa Sé para desencadear esta beatificação.
Depois de visitar a filha internada na unidade de terapia intensiva pediátrica de Buenos Aires, Roxana, preocupada com a grave condição de saúde de Candela, pediu a um sacerdote, padre Juan José Dabusti, para a acompanhar ao hospital e conferir a unção dos doentes à criança. Dias depois, a situação agravou-se porque Candela apanhou uma infeção hospitalar seguida de pneumonia e choque séptico. A mãe pediu de novo ajuda ao padre pois o hospital avisou-a de que a criança não sobreviveria a essa noite.“Roxana pediu-me para lá ir e rezar mais uma vez”, recordou o padre Dabusti num testemunho, esta manhã, na sala de imprensa do Vaticano.
“Propus a Roxana rezar a João Paulo I para interceder pela vida e cura de Candela”. O sacerdote esclareceu que Roxana não sabia quase nada sobre o Papa Luciani, mas que para ele, sempre foi uma grande referência de santidade. “Como estávamos na UCI, a explicação que lhe dei foi apenas pedir a sua intercessão para salvar a vida de Candela.
Então, juntos, acompanhados de duas enfermeiras presentes, colocámos as mãos no corpo de Candela e eu rezei espontaneamente. Não me lembro exatamente das palavras que disse. Pedi ao Senhor, por intercessão de João Paulo I, para que curasse Candela.”
O padre Juan José Dabusti acrescentou ainda este facto decisivo: “No dia seguinte, Roxana veio à paróquia e disse-me que sua filha, não só tinha superado aquela noite, mas que havia sinais claros de melhoras.”
Hoje, com 20 anos e totalmente curada, Candela Soza participou nesta conferência de imprensa, via Zoom, a partir de Buenos Aires, ao lado da sua mãe Roxana, manifestando profunda gratidão por esta cura cientificamente inexplicável.