O candidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa considerou esta segunda-feira que "é um escândalo" em período de crise gastar-se centenas de milhares numa campanha e defendeu que poderia ter apresentado um orçamento ainda mais baixo.
"É aquilo que eu sempre pensei, que as campanhas eleitorais devem ser muito mais modestas em termos de recursos financeiros, e então em período de crise é um escândalo estar a falar em centenas de milhares de euros, ou em milhões de euros, quando as pessoas estão com as dificuldades no dia-a-dia, na sua saúde, na segurança social, nas despesas básicas da vida", afirmou.
Em resposta aos jornalistas, durante a inauguração da sua sede de campanha, junto ao Palácio de Belém, em Lisboa, o antigo presidente do PSD e ex-comentador político da TVI recusou qualquer relação entre o orçamento que apresentou, de cerca 157 mil euros, e a sua notoriedade.
"Eu conheço muitos candidatos com notoriedade muito elevada que, no entanto, tiveram campanhas dispendiosas ao longo da vida, quer em campanhas legislativas, quer em campanhas presidenciais. E eram muito conhecidos, muito, muito conhecidos – tinham décadas de experiência política e de notoriedade pública e de exercício de cargos públicos", apontou.
Sem nomear ninguém, Marcelo Rebelo de Sousa disse que esses candidatos, apesar da notoriedade que já tinham, "não deixaram de fazer campanhas naquela altura com valores muito superiores", e acrescentou: "Tratava-se, na altura, de contos de réis, e não de euros, e de campanhas muito caras, nada comparáveis com aquilo de que estamos a falar hoje".
Segundo dados da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos disponibilizados esta segunda-feira, dos dez candidatos presidenciais que entregaram assinaturas no Tribunal Constitucional, Marcelo Rebelo de Sousa - em quem PSD e CDS-PP recomendaram o voto – tem o sexto maior orçamento de campanha, com 157 mil euros de despesas.
Em primeiro lugar surge Edgar Silva, apoiado pelo PCP e pelo PEV, com despesas previstas no valor de 750 mil euros. António Sampaio da Nóvoa prevê gastar 742 mil euros e a socialista Maria de Belém Roseira calcula 650 mil euros de despesas. Marisa Matias, candidata apoiada pelo BE, prevê gastar cerca de 450 mil euros, e o socialista Henrique Neto 275 mil euros.
"Se eu pudesse voltar atrás em termos de orçamento, teria apresentado ainda um mais baixo", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa. "Porquê? Por uma questão de princípio".
Segundo o antigo presidente do PSD, as despesas estimadas com "o digital" poderão ser excessivas.
"Portanto, se alguma coisa me pesa na consciência é, apesar de tudo, o orçamento – que é dos mais baixos, comparativamente – mesmo assim não ter sido ainda mais baixo. Poderia, porventura, ter ficado aquém dos 100 mil euros. Mas não é uma questão que tenha a ver com nada do perfil do candidato ou da campanha. Tem a ver com a situação que vive o país e com aquilo que eu sempre defendi em relação ao que deveria ser o gasto de uma campanha eleitoral", reforçou.