Numa mensagem aos paroquianos das igrejas de São Nicolau e da Madalena, o padre Mário Rui Pedras informa que soube na última segunda-feira, 20 de março, que o seu nome consta da “lista de pessoas, vulgo abusadores”, que a Comissão Independente (CI) que estudou os abusos na Igreja entregou na Diocese de Lisboa.
No texto, a que a Renascença teve acesso, o sacerdote adianta que foi alvo de uma “denúncia anónima”, e que a notícia o chocou “profundamente”. “Nessa denúncia alguém refere ter sido vítima de abusos por mim perpetrados, os quais teriam ocorrido na década de 90, quando frequentava o 8º ano, num colégio da periferia de Lisboa”, revela ainda, assegurando que “essas imputações são totalmente falsas”.
Padre há 41 anos, Mário Rui Pedras diz que ao longo da sua vida sacerdotal não praticou “o que quer que fosse de censurável, seja pelo prisma da lei canónica, pelo prisma da lei civil ou da ética comportamental”, e lamenta que a “inventada vítima” não se tenha identificado, nem a denúncia indique o local onde os “falsos abusos” ocorreram, nem sequer “o nome de potenciais testemunhas”.
“Nada. Uma denúncia anónima, falsa, caluniosa, sem qualquer elemento útil ou prestável para investigação”, escreve o sacerdote, que admite que “a calúnia” o deixa “numa situação delicada”, mas que tudo fará para repor a verdade, incluindo pela via judicial.
“Vejo a minha honra e a minha reputação serem afetadas por um golpe cobarde, cuja existência não consigo entender nem explicar. Procurarei fazer tudo o que estiver ao meu alcance para desmascarar quem me difamou, restaurando a minha honra, agora visada, livrando-a de qualquer mácula ou suspeita”.
Aos paroquianos assegura que nada fez “de errado, de desrespeitador ou de criminoso”, mas explica que apesar disso se colocou “à disposição do Patriarca de Lisboa, para que tomasse as medidas cautelares que entendesse adequadas, no âmbito da investigação prévia” que irá ser feita. “Eu próprio reclamo que essas diligências tenham lugar e que se iniciem com a máxima brevidade”, acrescenta.
“Quem não deve não teme. E eu não temo. Tudo farei para que a verdade seja reposta”, escreve Mário Rui Pedras, que diz aceitar o atual momento com uma “sensação dolorosa de enorme injustiça”.
“Percorrerei, agora, este caminho de pedras com profunda confiança em Deus, em amor à Igreja e em obediência ao meu Patriarca, enfrentando esta abjeta e monstruosa difamação. Sacrifico-me na esperança de poder estar a contribuir para o bem maior da Igreja”, sublinha ainda o sacerdote, que para além de ser pároco das igrejas de São Nicolau e da Madalena, é também diretor do Departamento do Turismo do Patriarcado de Lisboa e do Departamento da Mobilidade, e assistente nacional da ACEGE, a associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE).
A mensagem divulgada esta quarta-feira confirma que faz parte do grupo de quatro sacerdotes no ativo que o cardeal patriarca D. Manuel Clemente anunciou, terça-feira, ter afastado do exercício público de funções, enquanto decorrerem as diligências processuais, seguindo a recomendação nesse sentido da Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis.