Do acordo "escrito e multipartidário" às referências a Joacine. Livre passou 2.º dia de campanha em Lisboa
26-02-2024 - 22:46
 • Alexandre Abrantes Neves

Numa arruada no Saldanha, o porta-voz do Livre deixou de fora da equação acordos bilaterais como os da geringonça. Sobre Joacine Katar Moreira, Rui Tavares diz que a "situação foi uma pena", mas está convencido de que o partido vai finalmente recuperar. E entre recados para o Governo sobre a habitação, ainda houve tempo para falar crioulo.

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Não há alternativa: se a esquerda tiver mais deputados no Parlamento, “tem de haver um acordo escrito e multipartidário”. Rui Tavares insistiu esta segunda-feira num entendimento diferente do da geringonça de 2015, caso a esquerda consiga uma maioria, ainda que relativa, no Parlamento.

Numa arruada na zona do Saldanha, em Lisboa, o porta-voz do Livre relembrou que desta vez “não há pressa” para aprovar orçamentos e que, por isso, os partidos devem evitar acordos bilaterais como os da geringonça em 2015 e preferir uma negociação conjunta.

“Nós defendemos um acordo multipartidário e escrito. Não estamos a duodécimos nem temos de aprovar um orçamento já em breve. Há tempo para fazer seguir o que são as melhores práticas europeias, estar a negociar com grupos de trabalho setoriais nas várias áreas de saúde, educação, defesa e por aí fora”, defendeu.

A habitação é outra destas áreas-chave, principalmente numa altura em que “as nossas cidades são cidades de tendas” e aumentaram os pedidos de despejos. E se muito já se falou desde o início da pré-campanha sobre parque público de habitação, Rui Tavares parece querer trazer agora para cima da mesa novos temas, como as condições dos sem abrigo.

O líder do Livre deixa um recado ao governo: há verbas para ajudar estas pessoas, principalmente vindas do fundo de emergência para a habitação, proposto pelo Livre e em vigor desde o início do ano.

“Em todas as transações imobiliárias, 25% do seu imposto selo vai para este fundo. Vamos dirigir uma pergunta ao governo no sentido de saber qual é o montante, mas pode andar entre os dez e os 20 milhões de euros e já poderiam ser carreados para a fazer face a esta emergência”, detalhou.

E quando a comitiva dava a volta à rotunda, a pergunta da tarde surgiu pela boca de um apoiante: “Fala crioulo?”. Quintino não esconde a cara de surpresa e felicidade quando ouve as primeiras palavras na sua língua mãe saírem da boca do porta-voz do Livre. Cabo-verdiano em Portugal, trabalha como cozinheiro em Lisboa há vários anos e, apesar de ainda não ter nacionalidade portuguesa, garante que “já está a fazer campanha pelos amigos que podem ir às urnas”.

No Saldanha, no centro da capital, não é estranho encontrar-se pessoas de todo o mundo. Terá sido talvez por isso que, poucos minutos depois, Rui Tavares já falava com Omeh do Bangladesh que, em inglês, lhe confidenciou que o seu pai, eleitor em Portugal, é apoiante do Livre.

Perante “todo este apoio”, Rui Tavares garante estar tudo sob rodas para a eleição de um grupo parlamentar – não tivesse também o partido trazido uma bicicleta de dois lugares para esta arruada. E, numa espécie de tentativa de reconquistar o eleitorado conseguido por Joacine Katar Moreira, Rui Tavares admite que a situação foi uma "pena para todos", mas garante que o partido é o mesmo e que está a recuperar o fôlego.

“Foi uma pena para todos, certamente até para Joacine Katar Moreira. Perdemos uma volta em relação a outros partidos que também entraram no parlamento nessa altura, como o Chega e a Iniciativa Liberal. E agora o que nós sentimos é que estamos a recuperar boa parte desse caminho. Há mais ideias de onde essas vieram e temos vontade de trabalhar mais ainda, em Lisboa, no Porto, em Setúbal e em todos os distritos onde podemos eleger”, explicou.

E nesta aposta forte para conseguir mais deputados, a caravana do Livre ruma esta terça-feira a norte: de manhã no Porto, num centro de investigação marinha e ambiental, e à tarde em Braga para uma conversa sobre mobilidade.