Os Estados Unidos estão há um mês a ultimar os preparativos para a reunião que promete juntar Donald Trump e Kim Jong-un ainda este ano.
Depois de um 2017 marcado por trocas de ameaças e insultos entre os dois líderes, o Presidente norte-americano enviou Mike Pompeo a Pyongyang na qualidade de diretor da CIA para preparar o terreno para essa reunião.
O encontro "secreto" teve lugar em meados de abril e só foi confirmado
depois de ter acontecido. Desde então, houve algumas mudanças.
Pompeo
deixou a agência secreta para se tornar secretário de Estado dos
EUA, o correspondente ao nosso ministro dos Negócios Estrangeiros.
Assumiu o cargo ontem, na véspera de Kim se encontrar com o homólogo
sul-coreano - uma reunião que marcou para sempre este 27 de abril de 2018, o dia em que, pela primeira vez em 65 anos, um líder norte-coreano atravessou a fronteira que divide a península em dois.
O encontro desta madrugada acabou com uma cartilha de princípios e um grande compromisso: enterrar o machado da guerra. Em 1959, as duas Coreias assinaram um armistício para suspenderem o conflito armado, mas nunca foi assinado qualquer tratado de paz.
Esse poderá ser o primeiro fruto a ser colhido do encontro desta sexta-feira, um que, acima de tudo, serviu de prelúdio à prometida cimeira entre Trump e Kim. O derradeiro objetivo da administração Trump, como os dois líderes coreanos também concordaram, é "completar a desnuclearização da península".
O que quer Kim Jong-un?
Em termos gerais, a Coreia do Norte quer garantias de segurança e respeito pela sua soberania.
Em março, Kim disse ao Presidente chinês, Xi Jinping, que a desnuclearização da Península Coreana só pode ocorrer quando os EUA e a Coreia do Sul adotarem "medidas sincronizadas e progressivas" para garantir a segurança do território norte-coreano.
Nas entrelinhas ficou a ideia de que Kim vai pedir o fim das sucessivas sanções que os EUA e restante comunidade internacional têm imposto ao país por causa dos seus testes nucleares e de mísseis. Ficou também no ar a possibilidade de o líder norte-coreano pedir a Trump que reduza o número de tropas que tem estacionadas no sul da península como instrumento de "dissuasão" - leia-se, para controlar as aspirações nucleares de Pyongyang.
Dado que as duas Coreias nunca assinaram um acordo de paz, tecnicamente ainda estão em guerra. Kim, tal como o pai e o avô, seus antecessores, vê nos EUA e nas suas 30 mil tropas destacadas na Coreia do Sul uma ameaça à existência do seu país.
Os exercícios militares conjuntos que os dois aliados organizam todos os anos na região, a par das recentes campanhas militares dos EUA no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e mais recentemente na Síria, reforçam ainda mais a ideia de Kim sobre a necessidade de ter armas nucleares para se proteger de uma potencial invasão norte-americana.
O que quer Donald Trump?
Acima de tudo quer que a Coreia do Norte ponha fim a todos os seus programas de armamento nuclear e mísseis balísticos, sobretudo depois de Kim ter ameaçado usá-los para atacar a América continental.
Trump também quer ser recordado como o Presidente que conseguiu controlar Pyongyang e acabar com o estado de guerra entre as Coreias.
Para quando está marcada a cimeira?
Ainda não está agendada. Até agora, Trump tinha prometido concretizá-la até junho. Ontem, anunciou que já tem alinhavadas "três ou quatro" potenciais datas e uma lista de "cinco locais" para a reunião. Se acontecer, será a primeira da História a juntar um Presidente norte-americano em funções e um líder norte-coreano.
E vai mesmo acontecer?
Ainda não se sabe. Apesar de ter dado a entender que está tudo encaminhado, Trump também disse ontem que a dita cimeira "pode nunca acontecer".
Num telefonema improvisado para o programa "Fox and Friends" da Fox News, o Presidente norte-americano declarou, em direto na televisão americana: "Posso sair [da reunião] muito rápido, com respeito mas pode acontecer. Também pode dar-se o caso de o encontro nunca chegar a acontecer. Quem sabe?"