Falta debate, falta comunicação, considera a professora sénior em media e sociologia na City University of London, Carolina Matos, 45 anos, para quem a expressão "ideologia de género" é uma terminologia a ser evitada.
“Essa frase, essa expressão não está correta, você está dizendo que existem algumas ideias como se tratasse de um partido político, o que se luta não pode ser classificado de ideologia de género, isso é a mesma coisa que alguns advogados lutarem pelos seus direitos, essa questão de género, não interessa só para a mulher, mas para o homem. São várias questões importantes que transcendem um partido político em torno do género”, refere a investigadora que prefere falar em direitos.
“Ideologia de género é uma expressão que não existe, só é usada por grupos que querem impedir avanços nos direitos da mulher e dos homens. Estamos a retroceder até antes dos anos 60, como vai ser a vida destas pessoas no futuro? Para quê trazer-lhe mais sofrimento? As pessoas precisam ter mais empatia com este debate para poder participar melhor”, defendeu em Coimbra.
A docente e investigadora que tem no curriculum quase 30 anos como jornalista, com passagens pela Folha de S. Paulo e Reuters, tem observado o papel da comunicação para o desenvolvimento, olhando a questão de género nos media.
Considera que o jornalismo tem desempenhado bem o seu papel? “Eu acho que não, acho que a comunicação podia fazer um papel melhor, tem matérias aprofundadas que sai na imprensa, mas os espaços são pequenos para estes assuntos. Nesse momento é um momento importante para ONGs e jornalismo aprender mais sobre este debate que precisa ser travado no âmbito dos direitos humanos. Quando se fala nesta expressão 'ideologia de género' há segmentos do grande público que pensam que grandes públicos estão a ser privilegiados. Isso é uma falácia”, conclui, acrescentando que “não há um diálogo apropriado, há uma necessidade enorme de engajar o grande público nesse debate. Muitas pessoas por causa do controlo social, causa muito sofrimento, muita desumanidade que estamos a fazer a um grande grupo da sociedade, estigma e discriminação”, afirmou Carolina Matos que concluiu o doutoramento em 2007 na Goldsmiths, Universidade de Londres e que resultou no livro: “Jornalismo e política democrática no Brasil”.
Autora de diversas obras, Carolina apresentou em Coimbra um estudo atual sobre como as ONGS que trabalham o género e o feminismo estão a usar a comunicação principalmente na área dos direitos sexuais e reprodutivos, “que é uma discussão que está voltando à tona, e como ainda há muita falta de informação, muito preconceito e muito ataque”, salientou.
Declarações da investigadora internacional Carolina Matos no âmbito do Colóquio Internacional e Escola de Verão Género, Comunicação e Ativismos que decorreu esta semana na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.