Francisco Assis não poupa nas críticas ao novo Governo, que António Costa apresentou ao Presidente da República na terça-feira ao final do dia.
No programa "Casa Comum" da Renascença, esta quarta-feira, o ex-eurodeputado do Partido Socialista (PS) acusa Costa de ter feito um executivo à sua imagem e a pensar só nos próximos dois anos.
"Os cálculos de António Costa são estes. Há aqui dois anos de combate político permanente. Depois vai haver dois momentos importantíssimos: a presidência portuguesa da União Europeia e as eleições autárquicas. António Costa formou um Governo a pensar neste dois anos. Valorizou muito a continuidade, a experiência, mesmo de ministros que estão muito desgastados junto da opinião pública”, afirma Assis no debate semanal com o social-democrata Paulo Rangel, que também aponta o desgaste de alguns ministros que continuam no Governo.
“O pior de tudo é não haver renovação nenhuma", aponta Rangel. "Onde verdadeiramente as coisas vão doer e doem é nos casos da Saúde, Educação e Serviços Públicos em geral. Aí, as notícias são negativas porque Marta Temido é uma ministra completamente desacreditada. Não houve nenhum ganho, antes pelo contrário, na substituição pelo ministro anterior Adalberto Campos Fernandes. Neste momento a situação da Saúde é caótica. E o ministro da Educação, sinceramente, foi um ministro medíocre e vai continuar, não havendo nenhuma renovação.”
O social-democrata também critica o aumento de Ministérios, considerando que “dá a ideia de que quer dar o bodo aos pobres”. E acrescenta: “Tem que satisfazer toda a gente e, de repente, artificialmente, faz inchar o Governo para 19 ministros. É uma coisa nunca vista, é o maior Governo desde sempre. Não se justifica minimamente. É uma má solução e ter 19 ministros é manifestamente para agradar a 'capelinhas' do PS.”
Francisco Assis aponta críticas diretas ao núcleo duro do novo Governo, nomeadamente dois dos novos ministros de Estado: Pedro Siza Vieira e Mariana Vieira da Silva.
“Este é um Governo muito António Costa, com pessoas muito próximas do primeiro-ministro. Basta ter como número dois uma pessoa que nunca teve qualquer vida pública, no sentido de intervenção política, como o ministro da Economia. Causa-me também estranheza que Mariana Vieira da Silva assuma funções, de repente, de ministra de Estado, sendo uma pessoa que não tem um percurso político que se lhe conheça, um pensamento, uma linha de orientação, uma causa, uma luta, uma disputa, qualquer coisa.” E conclui: “É uma pessoa que cresce ali na redoma do Governo e de repente é ministra da Estado.”
No "Casa Comum" desta semana, o socialista também afirma que a “gerigonça” terminou na noite eleitoral e que não adianta o PS dizer o contrário.
“O Bloco de Esquerda é enfático a dizer 'a geringonça acabou'. O Partido Comunista também já disse que a geringonça acabou, ainda que de uma forma não tão evidente. E depois há uma tentativa de alguns setores do PS que dizem que há uma outra geringonça e até falam da "esquerda plural". Acho que isso é a pior forma de abordar a questão. As coisas têm de ser ditas com inteira verdade ao país. A geringonça acabou e entrámos numa nova fase. Pessoalmente, estou satisfeito porque sempre achei que, na atual fase da vida política portuguesa, a geringonça tinha mais aspetos positivos que negativos”, afirma o ex-eurodeputado e dirigente socialista, que tem defendido que o PS tem de ter capacidade para falar para a esquerda e para a direita.