O cardeal George Pell,
que na semana passada foi absolvido num caso de abusos de menores, deu uma
entrevista em que garante não guardar ressentimento e perdoa aos que o
caluniaram.
Condenado por presumíveis crimes de pedofilia e após a segunda instância ter renovado a condenação, o Supremo Tribunal da Austrália absolveu, na semana passada, o cardeal George Pell por falta de provas, em sentença votada em unanimidade pelos juízes.
Em entrevista exclusiva ao jornalista Andrew Bolt, da Sky News australiana, o ex-responsável do Papa para a economia considera-se vítima de uma onda mediática de acusações e alvo da calúnia popular, sobretudo no estado de Vitória, onde decorreu todo o processo.
O cardeal australiano explica que, no início do processo, respondeu a todos os inquéritos da polícia, mas que, depois, face à inconsistência das acusações por parte dos procuradores, optou por não falar no tribunal, deixando a sua defesa aos advogados.
Para o cardeal Pell, o momento mais difícil foi na segunda vez, quando os juízes reafirmaram a condenação. Explicou que, “nessa altura fui-me mais abaixo, mas tive de aguentar”.
Interrogado sobre a fúria das acusações, fora e dentro do tribunal, disse não guardar ressentimento e que perdoou aos que o acusaram e caluniaram. “Confiei sempre na minha consciência e, sobretudo, no último juízo, pois o juízo de Deus não é o juízo dos homens”, acrescentou.
O cardeal Pell reconhece ter sido o “bode expiatório” de uma tendência crescente, na Austrália e não só, de “uma atitude anticatólica muito agressiva que crítica os fundamentos judaico-cristãos da sociedade, nomeadamente, sobre o casamento, a vida, a família e questões de género e de sexo”.
O cardeal, conhecido pela sua frontalidade sobre a doutrina da Igreja, denuncia que “deixou de haver uma discussão racional sobre estes assuntos e isso perturba a própria democracia”.
Como foi a vida atrás das grades
“Fui respeitado na prisão” e “muitos dos presos acreditaram na minha inocência”, afirma George Pell na entrevista à Sky News.
Alguns dos detidos disseram mesmo que “foi a única vez houve prisioneiros a tomar partido e um sacerdote acusado de pedofilia”, relata.
Pell, que chegou a integrar o C9 - Conselho restrito dos cardeais consultores do Papa - afirmou ter recebido sempre o apoio do Santo Padre.
“Apesar de não coincidirmos em certas visões teológicas, o Papa sempre respeitou a minha honestidade.”
O ex-secretário de Francisco para a Economia também não descarta o incómodo causado pela sua firmeza anticorrupção no Vaticano e pelos riscos que a sua saída trouxe na prossecução de uma maior transparência financeira, “como se verificou recentemente nas demissões de alguns responsáveis e no escândalo de certos negócios imobiliários em Londres”.
O cardeal, que permaneceu 405 detido numa ala da Prisão Barwon, da cidade de Vitória, diz que recebeu 4.000 cartas e muito apoio material e de conforto espiritual e de amizade.
Interrogado sobre o deu dia a dia na cadeia, Pell diz ter estabelecido uma regra de vida: “rezar, levantar-se cedo, comer e dormir a horas certas, fazer um pouco de exercício físico, ler muito e escrever”.
E conclui: “Foi um período difícil, foi como um grande retiro espiritual”.