Aumentou, nos últimos meses, o número de doentes com acidentes vasculares cerebrais (AVC) agudos a chegar aos hospitais.
“Temos vindo a tratar cada vez mais doentes com AVC agudo”, afirma a coordenadora da Unidade Cerebrovascular do Centro Hospitalar de Lisboa Central.
“São doentes muito mais complexos, têm muito mais doenças, que estão menos bem compensadas, todas elas”, acrescenta Ana Paiva Nunes, em declarações à Renascença.
Durante o período da pandemia com maiores restrições, registou-se “uma redução imensa” no número de AVC, diz a responsável. “Aliás, todas as unidades nacionais tiveram reuniões específicas por causa disso. E, desde que acabaram as restrições ou, pelo menos, foram limitadas, nós notámos um acréscimo significativo do número de doentes com AVC agudo”, admite.
Na opinião de Ana Paiva Nunes, “a retoma da atividade laboral e dos compromissos profissionais seguramente têm um papel” neste aumento. Além disso, “como durante a pandemia não houve os cuidados habituais de saúde, de prevenção primária e secundária, é provável que isso também seja responsável pelo aumento da gravidade e complexidade das situações que vemos hoje”.
E as vacinas? Há quem aponte o AVC como um efeito secundário negativo da vacinação contra a Covid-19.
“Não, isso não me parece de todo”, afirma a especialista com veemência. “As pessoas gostam muito de se focar nisso, mas eu não tenho, na minha prática clínica, evidência nenhuma disso. Nenhuma, de todo. Não penso que se deva ter receio da vacinação por causa desta parte dos AVCs”, reforça.
Ligar logo o 112
A primeira ação que se deve tomar quando alguém está a ter um AVC é chamar o 112 e não correr à urgência de um hospital.
“Devem ligar imediatamente o 112, porque nós temos toda uma estrutura preparada para conseguir tratar estes doentes no hospital certo. Não é ir para a urgência, é ativar o 112 e a emergência pré-hospitalar, de forma a esse doente ser orientado para o hospital que o consegue tratar”, sublinha a coordenadora da Unidade Cerebrovascular do Centro Hospitalar de Lisboa Central, de que fazem parte os hospitais de São José, dos Capuchos, D. Estefânia, Santa Marta e Curry Cabral.
“Continua a ser uma informação que os portugueses não têm ou desvalorizam ou preferem ir pelos seus próprios meios ao hospital e esta atitude é que é errada”, insiste.
Nesta sexta-feira, 29 de outubro, assinala-se o Dia Mundial do AVC. É a principal causa de morte e de incapacidade em Portugal. Os principais sintomas são “boca do lado, dificuldade em falar, falta de força num braço”, acompanhada ou não de redução de força numa perna.
Mais fácil de decorar são os chamados “3 Fs”: fala, face e força. Ou seja, face descaída; a dificuldade na fala e em articular um discurso; fala arrastada; e a tal falta de força num braço e/ou perna.
Tome ainda atenção à falta súbita de visão, alteração da visão ou diminuição abrupta num ou em ambos os olhos ou ainda visão dupla; e a uma forte dor de cabeça, dor de cabeça muito intensa e diferente do habitual.