“Não sabemos como vai ser o dia de amanhã. Só a nossa fé nos mantém", afirma o arcebispo de Dehli D. Anil Couto, em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), a propósito da evolução descontrolada da Covid-19 na Índia, que tem registado mais de 350 mil novos casos diários da doença.
D. Anil Couto fala num tempo “muito angustiante, incerto, um momento de dor, sofrimento e ansiedade”, em que “não sabemos quem será o próximo” a ser infetado.
O arcebispo atribui o descontrolo da situação ao não cumprimento dos protocolos de saúde, em primeiro lugar nas eleições de abril, e nas muitas reuniões partidárias que decorreram um pouco por todo o país. “Foram permitidos comícios políticos sem qualquer consideração pelos protocolos de saúde”, garante.
Mas, também ao nível religioso não foram tomadas todas as precauções possíveis, e dá como exemplo o encontro ‘Kumbh Mela’, que atrai milhões de peregrinos. “Foi permitido e os protocolos contra o Covid-19 não foram aplicados”.
“Eu diria que desencadeámos as infeções porque não tomámos precauções suficientes. Fomos relaxados. Portanto, penso que estamos a pagar agora o preço disso”, afirma.
Igreja Católica na linha da frente do combate
Em Deli há uma unidade hospitalar que pertence à Igreja, o Hospital da Sagrada Família, que tem procurado manter o nível de qualidade que lhe é reconhecido. “Temos uma tradição de bons cuidados de enfermagem, os nossos médicos e enfermeiras tentam dar uma atenção muito pessoal a todos os pacientes”, conta D. Anil Couto. Mas, como no resto do país, há muitos constrangimentos. “É stressante devido ao número esmagador de casos e à constante escassez de oxigénio, e até mesmo de pessoal”, admite o prelado.
A Covid-19 já causou, pelo menos, 260 mil mortos na Índia. A Conferência Episcopal Indiana ainda não sabe quantos elementos a Igreja já perdeu com a pandemia em todo o país, mas na Arquidiocese de Deli a doença já fez várias vítimas. “Três religiosas morreram, uma tinha apenas 50 anos. Morreu de repente. Também perdemos membros leigos, que eram muito ativos, tanto ao nível paroquial como ao nível diocesano. Mas, nenhum padre [faleceu] até agora, graças a Deus”, revela o arcebispo.