O antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes encara o apelo de Barack Obama contra a saída do Reino Unido da União Europeia como uma declaração de estímulo para toda a Europa. O comentador do programa “Fora da Caixa” considera que mensagem trazida pelo Presidente dos Estados Unidos a Londres, no quadro da sua recente visita à Europa, pode ter ressonância continental.
“A declaração foi surpreendente pela força e assertividade. Barack Obama pode não ser forte a decidir mas, como sabemos, é forte a falar. Trazia a mensagem estudada, que reflecte a posição da administração norte-americana e foi muito clarificadora. Pode ser muito importante. A declaração é até um tónico, em certa medida, para este momento da União Europeia, realçando a importância da permanência do Reino Unido na União Europeia”, afirma Santana Lopes na Renascença.
António Vitorino subscreve a importância da declaração do Presidente norte-americano, mesmo na sequência de muitas outras feitas no mesmo sentido pela administração americana.
"Desta vez teve o efeito de ser feita no próprio Reino Unido, várias vezes e de forma muito enfática. O que é também um sinal da necessidade que havia dessa declaração. Manifestamente, o primeiro-ministro Cameron estava numa posição de alguma fraqueza. E já as sondagens desta semana notam uma ligeira vantagem a favor da permanência do Reino Unido”, observa o ex-ministro do PS.
Para o antigo comissário europeu, Obama acaba de retirar aos defensores da saída do Reino Unido uma tese baseada numa relação especial alternativa do Reino Unido com os Estados Unidos.
“Aquela frase brutal do Presidente Obama, dizendo que se saírem da União Europeia vão para o fim da fila em termos de tratados de comércio, é uma frase que dita assim, a frio, é de uma enorme brutalidade. E é um seríssimo revés para aqueles que defendem a saída do Reino Unido da União Europeia”, complementa Vitorino.
Discursos de consciência pesada
No discurso aos “povos da Europa” proferido em Hannover na Alemanha, Barack Obama insistiu na defesa da unidade da Europa, numa das alocuções mais marcantes do seu mandato dirigidas ao Velho Continente. Os comentadores do “Fora da Caixa” assinalam que a diferença entre as palavras e os actos parece ainda toldar o saldo de Obama como um Presidente pró-europeu.
“Esse discurso foi uma espécie de descarregar a consciência pesada. De facto, ele não foi um presidente muito activo nas relações europeias e fez essa profissão de fé na Europa para, de alguma maneira, limpar o registo histórico do que foram os seus dois mandatos”, analisa António Vitorino.
Para Pedro Santana Lopes, Obama veio “confessar-se” aos europeus, ao professar a fé na Europa ou o apoio a Merkel nas migrações. "Parecia que foi ao livro ver o que faltou fazer ou dizer”, graceja o antigo primeiro-ministro.