O Papa Francisco diz que não é impedindo que os barcos com refugiados cheguem aos portos europeus que se resolve o problema da migração, dizendo que é a injustiça que está na raiz deste problema social.
Num discurso feito esta quinta-feira, diante de um grupo de refugiados que chegaram a Roma vindos de Lesbos, na Grécia, o Papa teceu fortíssimas críticas aos campos de detenção de migrantes na Líbia, criticando assim indiretamente quem defende que os migrantes salvos no Mediterrâneo devem ser devolvidos àquele país.
“Como podemos não escutar o grito desesperado de tantos irmãos e irmãs que preferem enfrentar o mar tempestuoso a morrer lentamente nos campos de detenção líbios, lugares de tortura e escravidão ignóbil? Como podemos permanecer indiferentes diante dos abusos e da violência de que são vítimas inocentes, deixando-os à mercê de traficantes sem escrúpulos?”, perguntou Francisco.
“Não é bloqueando os seus navios que se resolve o problema. Temos de nos empenhar seriamente em esvaziar os campos de detenção na Líbia, avaliando e implementando todas as soluções possíveis. É necessário denunciar e perseguir os traficantes que exploram e maltratam os migrantes, sem medo de revelar conivência e cumplicidade com as instituições.”
O dever moral de salvar as vidas dos migrantes que tentam chegar à Europa é “imprescindível” e algo que “une crentes e não crentes”, disse o Papa.
Crucifixo com colete salva-vidas
No final do seu discurso o Papa pediu a dois migrantes para descerrar um crucifixo vestido com um colete salva-vidas, que lhe foi oferecido há dias por um grupo de socorristas.
O colete, explicou o Papa, foi encontrado a boiar no Mediterrâneo. O seu dono é desconhecido, certamente mais uma vítima, disse Francisco. “Estamos perante mais uma morte causada pela injustiça. Sim, porque é a injustiça que leva muitos migrantes a deixar as suas terras. É a injustiça que os obriga a atravessar desertos e a sofrer abusos e torturas nos campos de detenção. É a injustiça que os leva a rejeitá-los e os leva a morrer no mar”, clamou o Papa.
O crucifixo foi afixado numa parede e Francisco descreveu-o em detalhe. “Esta cruz é transparente: é um desafio para olharmos com mais atenção e procurar sempre a verdade. A cruz é florescente: para reforçar a nossa fé na Ressurreição, o triunfo de Cristo sobre a morte. Também o migrante desconhecido, morto na esperança de uma nova vida, participa nesta vitória.”
“Os socorristas contaram-me como aprendem constantemente sobre a humanidade das pessoas que conseguem salvar. Revelaram-me como em cada missão redescobrem a beleza de ser uma única família humana, unida na fraternidade universal”, afirmou.
Todos estes dados contribuem para aquilo a que o Papa descreve como o “imprescindível empenho da Igreja em salvar a vida dos migrantes, para os poder acolher, proteger e promover a sua integração”.
O fenómeno da migração e o flagelo dos milhares de migrantes que todos os anos perdem a vida a tentar chegar à Europa tem sido uma das principais preocupações do pontificado de Francisco, que em várias das suas visitas apostólicas fez questão de falar do assunto e de incluir na sua agenda encontros com os refugiados e migrantes.