Lise Klaveness, a nova presidente da Federação Norueguesa de Futebol, voltou a sublinhar as preocupações com os direitos humanos e dos trabalhadores que morreram e ficaram feridos na construção dos estádios para o Mundial de futebol. Em resposta, a FIFA e várias federações elogiam o progresso feito e elogiam as condições de segurança.
A antiga futebolista foi recentemente eleita para a presidência da Federação norueguesa e pediu para tomar a palavra no congresso da FIFA.
"O desporto pode quebrar barreiras, mas tem de ser bem feito ao mais alto nível. A Noruega debateu boicotar o Mundial 2022. Os nossos membros votaram em diálogo e em pressão na FIFA para mudanças. Os nossos membros pedem exigência, questionamos a transparência", começou por dizer.
Klaveness diz que o Mundial foi atribuído ao Qatar "em condições inaceitáveis e com consequências inaceitáveis. Os valores essenciais do futebol não foram considerados. A FIFA abordou o assunto, mas há um enorme caminho a fazer".
"É preciso cuidar das famílias dos feridos e dos mortos. Não há espaço para quem não garanta a segurança dos trabalhadores, não há espaço para um organizador que não respeite a segurança da comunidade LGBTQ+. A FIFA tem de liderar. Agora é o tempo de agir. Todos temos de liderar, zero tolerância em direção à corrupção", acrescentou.
Resposta rápida em defesa do Qatar
José Ernesto Mejía, secretário-geral da Federação das Honduras, tomou a palavra seguinte e diz que é o momento de colocar o foco "no futebol".
"Acho que é importante falar sobre o que a nossa colega da Norueuga disse. Percebemos as preocupações, mas não é o sítio nem o momento. Isto é futebol, estamos unidos pelo futebol. O governo do Qatar tem trabalhado com grande esforço para garantir que as condições dos trabalhadores foram asseguradas. Não é o espaço para discutir isso. Não podemos perder o foco no futebol", afirmou.
Hassan Al Thawadi, um dos organizadores do Mundial, respondeu diretamente a Lise Klaveness e lamentou que a dirigente não tenha feito a viagem até ao Qatar para "se educar".
Várias reportagens ao longo dos últimos anos mostraram que morreram mais de seis mil trabalhadores na construção dos estádios para o Mundial.
"Nenhum país é um paraíso"
No discurso de encerramento, o presidente da FIFA, Gianni Infantino garante que os direitos humanos no Qatar foram uma das suas principais preocupações quando assumiu o cargo, em 2016.
"Fui eleito em 2016 e uma das minhas primeiras viagens foi vir a Doha, falar com todas as pessoas e falar precisamente sobre direitos humanos e os direitos dos trabalhadores. Acredito que a única maneira de provocar mudança positiva é pelo diálogo. Nunca devemos responder a violência com violência", disse.
Infantino diz que o Qatar foi um "um parceiro que fez o que foi necessário para haver mudanças nos direitos humanos".
"É preciso ser reconhecido que, seis anos depois, o trabalho é exemplar. O trabalho que demora décadas noutros países, aqui foi feito em anos. Nem tudo é perfeito, não é o paraíso. Nenhum país é, mas o progresso foi feito", atira.
A FIFA passou ainda um vídeo no congresso em que elogia as inspeções feitas ao Mundial, com quase 80 mil horas de inspeções e auditorias às condiçõs de trabalho e leis adotadas no país em favor dos direitos dos trabalhadores.