O antigo presidente do Brasil acusa Jair Bolsonaro de transformar a pandemia da Covid-19 numa “arma de destruição em massa” e afirma que o país está a viver “um dos piores momentos da sua história”.
Num vídeo com cerca de 20 minutos, publicado nas redes sociais, Lula da Silva diz que teria sido possível evitar tantas mortes e critica a substituição da direção do Ministério da Saúde por militares sem experiência médica ou sanitária.
"Ficámos com um Governo para o qual a vida não tem valor e que trivializa a morte. Um Governo insensível, irresponsável e incompetente que não respeitou as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e está a transformar o coronavírus numa arma de destruição maciça", disse Lula, na segunda-feira, numa carta aberta aos brasileiros.
Também criticou o Governo por ter nomeado "soldados sem experiência médica ou de saúde" para chefiar o Ministério da Saúde, que foi entregue ao general Eduardo Pazuello após a demissão de dois ministros, no auge da pandemia do novo coronavírus no país.
"As eleições de 2018 mergulharam o Brasil num pesadelo que parece não ter fim. O país está a atravessar um dos piores períodos da sua história", disse Lula.
"Como nos filmes de terror, as oligarquias brasileiras deram à luz um monstro que já não podem controlar, mas que continuarão a apoiar enquanto os seus interesses forem servidos", disse.
"O povo não quer comprar revólver nem cartucho de carabina. O povo quer comprar comida”, apontou Lula, que também questionou o que entende ser uma posição de submissão de Bolsonaro face ao governo norte-americano, citando George Floyd ao defender a luta do “Black Lives Matter”.
"Não podemos admitir que a nossa juventude negra tenha as suas vidas marcadas por uma violência que beira genocídio. Não paro de me perguntar: 'quantos George Floyd nós tivemos no Brasil? Quantos brasileiros perderam as vidas por não serem brancos? Vidas negras importam, sim", disse.
O atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tem repetidamente minimizado a pandemia, chamando-lhe uma "gripe menor" e apelando à retoma das atividades económicas, em vez da imposição de medidas de contenção, que descreveu como "pior do que a doença".
Apela a um "regresso ao normal" e continua a apertar a mão aos seus apoiantes, sem usar máscara, como fez na segunda-feira, numa cerimónia que assinalou o aniversário da independência do Brasil.
Lula, 74 anos, que conta com o apoio de uma parte da população, aguarda o resultado de um recurso contra a sua sentença de nove anos de prisão por corrupção, que cumpriu parcialmente entre abril de 2018 e novembro de 2019.
O Brasil é o terceiro país do mundo mais afetado pela pandemia, atrás dos Estados Unidos e da Índia, em número de casos (4,1 milhões de casos confirmados), mas o segundo em termos de mortes (quase 130.000 óbitos).