Gouveia Melo é o novo chefe do Estado-Maior da Armada. A
cerimónia, encaixada entre Natal e ano novo, durou noventa segundos. O até
agora responsável da Marinha, Almirante Mendes Calado, não compareceu.
Há umas semanas, quando surgiu a notícia desta mesma substituição na chefia da Marinha, o Presidente não gostou, irritou-se com o ministro da Defesa. E o primeiro-ministro meteu-se pelo meio.
Resultado, a notícia não se confirmou. A demissão de Mendes Calado foi congelada. E a promoção de Gouveia e Melo também.
Mas a paz durou pouco. Agora, entre Natal e Ano Novo, tudo se confirma. Demite-se um, nomeia-se outro. O que esteve para ser demitido e não foi, acaba de ser afastado. E o que esteve para ser promovido e não foi, acaba de ser nomeado.
Parece uma operação militar clandestina, à margem do escrutínio. Sem pompa (o que é bom), mas sem a circunstância (o que é mau) que em democracia deve presidir a nomeações de grande responsabilidade. E essa circunstância chama-se transparência.
Não sei se a culpa é do Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, se é do primeiro-ministro e do ministro da Defesa, ou do próprio (agora) Almirante Gouveia e Melo que aceitou ser nomeado no meio de uma enorme trapalhada. No limite, a responsabilidade é de todos eles.
Em todo o caso, o vice-almirante Gouveia e Melo, que já prestou altos serviços ao país, não merecia ser promovido a almirante, através de uma nomeação opaca e sinuosa.
Desejo o melhor para o novo chefe de Estado-Maior da Marinha, mas tenho já saudades do vice-almirante que liderou a “task force” da vacinação e que na altura se definia como militar e não como político.
As Forças Armadas - e a Marinha, em particular - não mereciam tudo isto. Mas o país merece saber o que se passou e por que se passou deste modo.