O Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, elogiou hoje os resultados da experiência portuguesa de prevenção e luta contra a droga e criticou o caminho diferente seguido na América Latina com elevados índices de criminalidade e destruição de democracias.
Esta análise foi feita por Gustavo Petro no final de uma reunião com o primeiro-ministro português, António Costa, em São Bento, que começou com cerca de duas horas de atraso.
"Portugal seguiu já há 20 anos uma via muito diferente na luta contra a droga em relação à Colômbia e às Américas. Aqui há uma alternativa que queremos avaliar e que pode ser seguida pelos nossos povos, tendo em vista uma mudança. Em Portugal, não está criminalizada, o que não significa que seja legalizada", apontou o chefe de Estado colombiano.
De acordo com Gustavo Petro, em Portugal "há uma forte política de saúde pública, com resultados que apontam para uma redução da criminalidade e do consumo de drogas".
"É um êxito relativo a partir de um caminho que não é o da criminalização, enquanto na América Latina só se conhecem fracassos. Fracassos que se traduzem num milhão de mortos, em dez milhões de presos nos Estados Unidos, numa destruição democrática, que é evidente por exemplo no Haiti, e no fortalecimento de organizações criminosas com exércitos privados, controlo territorial e populacional", disse.
Gustavo Petro afirmou mesmo que essas organizações "têm fortes vínculos com o poder político em muitos dos Estados das Américas" e provocam "uma violência que é a mais alta do mundo".
"É altamente provável que haja mais mortes em resultado da clandestinidade associada ao narcotráfico nas Américas do que hoje, neste dia, na guerra da Ucrânia", referiu.
Na sua intervenção, o chefe de Estado colombiano manifestou também interesse em aprofundar a cooperação com Portugal na área das energias renováveis, considerando que a Colômbia pode ser exportadora para o Panamá e, depois, para os Estados Unidos.
Com António Costa ao seu lado, defendeu também que Portugal pode contribuir para a paz na Colômbia, advogando que o conflito tem um caráter local, relacionado com a propriedade territorial e a economia ilícita.
Gustavo Petro está em Portugal, hoje e domingo, em visita de trabalho, a convite do chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, deslocação que se insere "numa perspetiva comum de aprofundamento das excelentes relações entre os dois países".
De acordo com a nota divulgada pela Presidência da República, hoje à noite o chefe de Estado português "oferecerá um jantar em honra do Presidente Gustavo Petro no Palácio da Cidadela em Cascais".
Gustavo Petro, economista, ex-guerrilheiro e antigo senador, que se destacou na oposição de esquerda na Colômbia, foi eleito Presidente em junho do ano passado e tomou posse em agosto.
Em março deste ano, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa estiveram com o Presidente da da Colômbia na 28.ª Cimeira Ibero-Americana, em Santo Domingo, República Dominicana.
Na ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que um dos encontros bilaterais que teve à margem da cimeira foi com o Presidente da Colômbia e adiantou na altura a possibilidade de Gustavo Petro fazer uma visita a Portugal, "não envolvendo necessariamente a política de Estado".