A perda de um deputado de Viana do Castelo não é indiferente aos eleitores desta região que, apesar de conformados, mostram-se apreensivos. O círculo eleitoral elege menos um deputado nas legislativas de 10 de março e em vez de seis haverá cinco deputados eleitos por Viana na Assembleia da República.
Os vienenses, ouvidos pela Renascença, apontam vários problemas que surgem com essa mudança. A região perde voz no centro de decisões do país e a consequência é que os problemas dos vienenses podem ficar por resolver. O mais importante seria acabar, de uma vez por todas, com as portagens na A28, antiga SCUT, que não beneficiou da redução do valor das portagens como aconteceu noutras vias. Fixar jovens e resolver o acesso à habitação são problemas que também preocupam quem mora em Viana e de onde a população não pára de fugir.
Foi exatamente essa fuga de eleitores que ditou a perda de um mandato no Parlamento.
“É preocupante. É menos voz para a região”, assume José Fiúza que, enquanto lê o jornal sentado numa esplanada no centro da cidade, critica o estado da política no país. “As pessoas perdem, cada vez mais, o interesse pela política. Isto bateu, mesmo, no chão. Pronto”, remata o vianense.
Elsa Felgueiras, outra vianense, da “geração do 25 de abril”, como faz questão de referir, diz-nos que a perda de um mandato é “uma perda para os interesses da região”.
“Quantos mais deputados, mais opinião e mais ideias as pessoas têm, Viana continua a dormir. É sonâmbula”, lamenta.
A situação “reflete o que a cidade é”, atira José Escaleira. “A população está a fugir. O que é que havemos de fazer?”, questiona. “Viana do Castelo é uma cidade do litoral com características de interior: não atrai gente. É o que lhe sucede. É assumir as responsabilidades”, pede o, também, professor do ensino superior.
Para o presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Carlos Rodrigues a alteração no mapa eleitoral coloca o distrito mais distante do poder de decisão. “As regiões são tão mais relevantes, quanto mais próximas estiverem do poder de decisão, senão perdem poder de representatividade. Há um risco grande de perder influência e poder reivindicativo”, alerta o responsável. “A perda de um mandato preocupa-nos, como tem de preocupar os decisores, não é?”, conclui.
Em causa está a “perda de gente”, sobretudo, “gente jovem”, resume. Um problema que, para Carlos Rodrigues, está a colocar em causa o “futuro da região”. Ainda que Viana do Castelo seja “um distrito com costa de mar, os indicadores são muito parecidos com os das regiões de baixa densidade, do interior”, resume.
“A população está muito, muito envelhecia. Os jovens da região não se fixam”, defende. E, “se não os conseguimos captar, o que vai ser das regiões?”, pergunta. ”Tem de haver pessoas.” Caso contrário, alerta, a região “atravessará muitas dificuldades”.
E não é por falta de emprego, garante Carlos Rodrigues. Viana do Castelo é “um dos distritos mais exportadores do país” e não há falta de emprego. “Falta é subir um degrau” para atrair “empresas que incorporem mais valor e que possam subir os salários para tornar a região mais atrativa”, aponta.
Fim das portagens na A28 como prioridade
E se falta emprego de valor acrescentado para fixar os jovens, faltam, também, melhores condições para quem decidiu ficar. Além da dificuldade no acesso à habitação, generalizada a todo o país, há que baixar o custo da mobilidade de quem vive ou trabalha em Viana. A ideia é defendida pelo presidente da Associação Empresarial de Viana do Castelo (AEVC), Manuel Costa Júnior, que aponta o fim das portagens na A28, que liga o Porto a Caminha, como prioridade.
“Temos um problema já muito antigo em relação às portagens e ao pórtico do Neiva. Acresce o facto de a A28 ficar sempre excluída de qualquer desconto com peso no custo logístico das empresas”, lamenta o empresário.
“A A28 é responsável pelo transporte rodoviário de 56% da produção nacional, que vai para Espanha e também é responsável por 65% dos produtos espanhóis que são importados para Portugal”, lembra Manuel Costa Júnior que aponta, também, penalizações para quem trabalha em Viana. “O pórtico na zona do Neiva, penaliza o município, ou seja, os próprios munícipes que trabalham no parque empresarial do Neiva, se quiserem utilizar da auto estrada para trabalhar têm de pagar portagem, o que é uma situação bastante complicada.”
A A28 foi excluída da redução de 30% do valor das portagens das antigas SCUT, (Vias Sem Custo para o Utilizador) que entrou em vigor no início do ano. Os 10 concelhos do distrito falam em “discriminação intolerável” e, certamente, farão desta uma das reivindicações a entrar na campanha às legislativas antecipadas de 10 de março.
A perda de cerca de 2.500 eleitores por Viana do Castelo ditou que o círculo eleitoral tenha menos um deputado. De 6 mandatos, o distrito passa a eleger 5.
O mandato escapa para o distrito de Setúbal que, com o aumento de perto de seis mil recenseados e segundo o mapa da Comissão Nacional de Eleições (CNE), passa a eleger 19 deputados nas legislativas de março.