Quando, em meados de janeiro, se começou a falar da possibilidade de as escolas fecharem, a professora Dulce Gonçalves começou a receber mais alunos na sala das Mentes Sorridentes, na escola João Villaret, em Loures.
“Apareceram vários alunos receosos, porque a escola ia fechar e iam ficar fechados em casa e o ambiente em casa não era o melhor”, conta à Renascença a mentora do projecto e professora de educação especial.
Aquele espaço onde eles aprendem a gerir melhor as emoções e as ansiedades foi o escolhido para partilharem com a professora e os colegas um assunto que os estava a incomodar. Dulce Gonçalves diz que alguns casos foram encaminhados para as instituições que podem dar resposta, mantendo sempre a escola o apoio a estes alunos, quer por parte da psicóloga e também das Mentes Sorridentes.
O projeto começou em 2015 e, apenas dois anos depois, os casos de indisciplina diminuíram e a capacidade de atenção dos alunos disparou.
No final, um inquérito feito a professores e pais pelo Centro de Neuro-Desenvolvimento do Hospital Beatriz Ângelo, que monitoriza o projeto, confirmou que mais de 40% dos alunos melhoraram os níveis de atenção e reduziram a impulsividade.
Em tempos de pandemia, com os alunos fechados em casa, os perigos são ainda maiores. A professora Dulce Gonçalves, que está a fazer uma tese de doutoramento sobre o projecto, concluiu que um grupo de alunos que seguia o ano passado, e que continuou a ser acompanhado à distância quando as escolas fecharam, conseguiu desenvolver as suas competências socio-emocionais.
“Eles conseguiram usar as ferramentas nos momentos em que precisam de digerir os seus pensamentos mais difíceis, as emoções mais complicadas e os momentos da vida que representam um desafio”, relata a mentora do projeto,
A professora conclui que o programa funciona de uma forma preventiva da saúde mental e um reforço das competências socio-emocionais para estes jovens em realidade pandémica.
Na escola João Villaret a porta da sala das Mentes Sorridentes está sempre aberta, mas o programa é voluntário.
Há alunos que são indicados pelos pais ou professores, outros aparecem porque sentem que precisam de ter um momento que é dedicado a eles próprios.
“O programa decorre ao longo de oito semanas, mas no contexto atual vamos adaptando às circunstâncias da realidade”, conta Dulce Gonçalves.
Cada sessão dura 30 a 40 minutos, durante os quais os alunos fazem exercícios de treino da mente focados no pensamento, nas emoções. “É um treino focado nas competências cognitivas”, diz Dulce Gonçalves à Renascença.
O programa já mostrou que os alunos melhoram também o seu desempenho na escola, conseguem uma maior concentração e atenção nas aulas, melhoram a autoestima e o relacionamento com os outros.
Foi notória também a redução na escola dos ataques de ansiedade por parte dos alunos que foram seguidos neste projeto. São resultados que estão testados cientificamente.