Por cá fala-se pouco do assunto, mas na Guiné Bissau vive-se uma situação política bizarra: aquele pequeno país, de 1,8 milhões de habitantes, tem neste momento dois primeiros-ministros e dois governos. Um executivo chefiado por Aristides Gomes, que emergiu das eleições legislativas de 10 de março e afirma manter-se em funções, apesar de ter sido demitido pelo Presidente da República, José Mário Vaz, pois considera ilegal essa decisão presidencial; o outro governo foi escolhido por iniciativa do Presidente Vaz, que deu posse na passada quinta-feira ao segundo primeiro-ministro, Faustino Imbala.
A União Africana, a União Europeia, a Comunidade Económica de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e as Nações Unidas condenaram a decisão do Presidente e declararam que apenas reconhecem o Executivo saído das eleições legislativas de março. Também os líderes religiosos (católicos, evangélicos e muçulmanos) da Guiné-Bissau apelaram ao respeito pela vontade do povo expressa nas eleições de março. A CEDEAO vai tentar mediar o conflito.
Nesta confusa situação há um dado positivo: pelo menos para já, os militares guineenses declararam-se à margem das lutas políticas. Mas estas multiplicam-se, pois começou a campanha para a eleição presidencial, marcada para 24 deste mês.
Desde a independência a Guiné Bissau sofreu inúmeras crises políticas. Muitos cabo-verdianos que, com os guineenses, lutaram na guerra colonial abandonaram o país e em Cabo Verde ajudaram a criar uma democracia que funciona. A Guiné não teve essa sorte e hoje predomina ali uma preocupante corrupção.
E tudo se complica porque a Guiné Bissau passou a estar na rota do tráfico de droga. A ONU classificou o país como um “narco-Estado”. Parece que o primeiro-ministro A. Gomes, demitido pelo Presidente Vaz, se empenhara no combate ao tráfico de droga...