O pai das duas crianças refugiadas sírias, que morreram afogadas quando tentavam chegar à Grécia, quer regressar à Síria para sepultar os filhos na cidade de Kobani.
Abdullah Kurdi, que também perdeu a mulher no naufrágio ocorrido no Mar Egeu, identificou esta quinta-feira os corpos na morgue da cidade turca de Mugla, perto da praia de Bodrum, onde as vítimas foram encontradas.
“O que nos aconteceu aqui, no país em que nos refugiámos para escapar à guerra na nossa pátria, queremos que todo o mundo veja isto”, disse Abdullah aos jornalistas.
Não conseguindo conter as lágrimas, Abdullah deixou um apelo: “Queremos a atenção do mundo para evitar que o mesmo possa acontecer a outros. Que esta seja a última [morte]”, declarou.
A tragédia desta família síria ganhou repercussão global devido às imagens chocantes que mostram os filhos Abdullah mortos numa praia turca.
Na sequência, já conhecida como “O naufrágio da humanidade”, Aylan, de três anos, aparece já sem vida, com a cara na areia. Depois, um guarda recolhe o corpo do menino, que está vestido com uma camisola vermelha.
Aylan, o irmão Galip e a mãe Rehan estão entre os 12 mortos do naufrágio de dois botes, que tentavam chegar à lha grega de Kos.
Desde o início do ano, já morreram pelo menos 2.600 pessoas nas águas do Mediterrâneo, de acordo com as Nações Unidas.
A família de Abdullah fugiu de Kobani, cidade síria devastada pelo Estado Islâmico e entretanto recuperada pelos guerrilheiros curdos, e tentou imigrar para o Canadá, mas não conseguiu visto.
Depois da tragédia, as autoridades canadianas ofereceram a cidadania a Abdullah, mas o refugiado sírio recusou.
Num testemunho à polícia turca, avançado pelo jornal “Hurriyet”, o pai de Aylan conta que pagou duas vezes a traficantes para levarem a sua família da Turquia para a Grécia, mas não conseguiram fazer a viagem.
Então decidiram procurar um barco e remar até à ilha de Kos, mas a embarcação começou a meter água. As pessoas entraram em pânico e o barco virou-se.
“Eu estava a segurar na mão da minha mulher. As minhas crianças escorregaram-me das mãos. Tentámos agarrar-nos ao barco. Todos gritavam na escuridão”, relata Abdullah Kurdi.