Entre abril e junho de 2020, os portugueses gastaram mais 6,2 milhões de euros em produtos alimentares, o valor mais elevado de sempre num trimestre. Os dados são do Instituto Nacional de Estatística (INE).
As restantes despesas das famílias têm vindo a afundar como nunca visto, tendo-se virado para o consumo de alimentos. A variação homóloga é também a mais alta desde o primeiro trimestre de 1996.
No conjunto dos gastos das famílias, o valor despendido já não era tão baixo desde o início do século, avança o DN.
As preferências dos consumidores sofreram um desvio, como já tinha revelado a gestora da rede de multibanco SIBS. Entre abril e maio, meses iniciais do confinamento e a fase mais aguda da pandemia da Covid-19, os portugueses passaram a preferir bens não duradouros, em vez de duradouros.
Os dados divulgados pelo INE vieram confirmar a recessão histórica de 16,3%, permitindo agora uma leitura mais minuciosa das componentes do produto interno bruto (PIB) que mais pesaram na deterioração da atividade económica.
O consumo privado foi o que mais empurrou a economia para a recessão.
"No segundo trimestre, o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB passou de -1,2 p.p., no primeiro trimestre, para -11,9 pontos percentuais. O consumo privado (despesas de consumo final das famílias residentes e das instituições sem fim lucrativo ao serviço das famílias) registou uma variação homóloga de -14,5% em termos reais (-1,0% no trimestre precedente)", refere o destaque publicado na segunda-feira.
O comportamento dos portugueses foi moldado pelas medidas restritivas impostas pela pandemia da Covid-19, no país, como é possível observar nos números publicados.
Os dados revelam que foi nos carros que as famílias menos investiram, um bem duradouro.
"As despesas das famílias residentes em bens duradouros apresentaram uma acentuada redução (taxa de -27,6%), após terem diminuído 4,9% no primeiro trimestre, refletindo principalmente uma quebra abrupta das aquisições de veículos automóveis", indica o INE.
Entre abril e junho, as famílias gastaram 2,2 mil milhões de euros, o que representa uma quebra de 24% em relação ao primeiro trimestre (-692 milhões de euros) e de 27,6%, face ao período homólogo de 2019. Trata-se do valor mais baixo de despesa desde o terceiro trimestre de 2014.