O cardeal D. José Tolentino Mendonça defendeu, esta segunda-feira, que a pandemia de Covid-19 “reclama ser interpretada como uma encruzilhada civilizacional”.
“Ao mesmo tempo que nos devolve a consciência do limite, a pandemia também nos impele a refletir criticamente sobre as formas atuais de habitar e organizar o mundo e a sondar novos modos”, afirmou o arquivista bibliotecário da Santa Sé, notando que “aí as universidades terão coisas fundamentais a dizer”.
“A sua missão não são as cinzas, mas o fogo, a sua missão é a antecipação daquelas palavras que se tornarão decisivas para a construção do futuro”, explicou o poeta e ensaísta.
Na cerimónia de entrega do Prémio Universidade de Coimbra 2021, numa intervenção por videoconferência, D. José Tolentino Mendonça fez notar que “estamos a viver uma mudança epocal”, onde a atual pandemia “constitui um acelerador para essa transição”.
“Não voltaremos para trás. A normalidade pela qual tanto ansiamos não é um lugar já conhecido a que se torna, mas uma construção nova na qual nos temos de empenhar”, constatou D. José Tolentino Mendonça, acrescentando que “por distópica que possa ser, a pandemia empurra-nos para o futuro”.
O arquivista bibliotecário da Santa Sé considera que a crise pandémica veio reforçar a relevância do conhecimento, tornando mais claro que “as sociedades do futuro terão de potenciar sempre mais a importância e a centralidade do conhecimento” para o que será necessário “recorrer a paradigmas mais interdisciplinares e colaborativos, certamente acentuando a vantagem da internacionalização e do trabalho em rede”.
“O futuro não dispensará esses laboratórios de procura, criatividade, pensamento e inovação que as universidades constituem”, sustentou.
E no entender do ensaísta, para a construção do futuro, duas palavras se tornam decisivas: a contemplação e o cuidado.
“As nossas sociedades precisam de colocar no âmago da vida, com maior decisão e empenhamento, a noção de bem comum. A acentuação do individualismo conduziu-nos a uma dramática fragmentação da experiência social”, observou o cardeal, realçando que “salve-se quem puder” ou “todos contra todos” não são estratégias de futuro.
De acordo com D. José Tolentino Mendonça, “não podemos não avaliar o impacto dos diversos aspetos da vida social, política, económica e cultural no conjunto da sociedade ou da inteira família humana, nem ignorar que as decisões que hoje tomamos terão reflexo de longa duração, que condicionará a vida das gerações vindouras”.
“Servir o bem comum, que é no fundo servir a pessoa humana, a sua dignidade singular e inviolável, e servir a harmonia com toda a criação, deve tornar-se o objetivo mobilizador da comunidade”, defendeu o cardeal.
D. José Tolentino Mendonça considerou ainda que “precisamos de implementar e reforçar a cultura da responsabilidade do cuidado, não deixando ninguém para trás”.
“Nesta estação dramática da história, serve-nos a objetividade dos cuidadores sensatos, que responsavelmente se dão conta da urgência de restabelecer equilíbrios mais estáveis e duradouros. E as universidades estão na primeira linha para responder a esta chamada”, concluiu o poeta.