Costa desmente Marcelo sobre PGR e diz que "crise política foi irresponsável"
18-11-2023 - 13:42
 • Susana Madureira Martins , com redação

À margem da Comissão Nacional do PS, o primeiro-ministro demissionário criticou o Presidente da República: convocar eleições antecipadas revelou falta de bom senso e provocou uma "nova crise política irresponsável".

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O primeiro-ministro, António Costa, desmente ter dito publicamente ter sido ele a pedir ao Presidente da República que a procuradora-geral da República, Lucília Gago, fosse a Belém a 7 de novembro, dia das buscas no âmbito da Operação Influencer.

António Costa falava este sábado à margem da reunião da Comissão Nacional do PS, em Lisboa.

Esta semana, o Presidente da República disse que chamou a procuradora a Belém a pedido de António Costa. “O Sr. primeiro-ministro já esclareceu que ele pediu para eu pedir o encontro à Sra. procuradora-geral da República. Mais do que isso não posso dizer”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, durante uma visita à Guiné-Bissau.

Em declarações aos jornalistas, este sábado, António Costa manifestou uma versão diferente.

"Terá que perguntar ao Sr. Presidente da República que comentário público terei eu feito. Não me ocorre nenhum, mas se fiz algum comentário público ninguém melhor que os senhores jornalistas para saber que comentários é que eu fiz ou não. Porque se foi público, foi perante vossas excelências", declarou o primeiro-ministro demissionário.

António Costa nega ter-se referido em público à ida da procuradora-geral ao Palácio de Belém, por causa da Operação Influencer, e considera que as conversas entre Presidente e primeiro-ministro devem manter-se privadas.

"As conversas entre o Presidente da República e o primeiro-ministro são conversas que têm de assentar na plena confiança entre ambos. No dia em que cada um começa a achar que pode dizer o que é que o outro disse e o outro não disse, seguramente as relações entre os órgãos de soberania correrão com uma menor fluidez do que aquilo que devem correr", alertou.

O primeiro-ministro demissionário também deixou críticas à Procuradoria-Geral da República.

“Depois do segundo comunicado da PGR, ficou muito claro que não existe autonomia do meu processo relativamente ao conjunto do processo. O que o segundo comunicado veio esclarecer é que, apesar de seguir num foro separado, vai ter o andamento do conjunto do processo, que há muita prova carreada, que é muito complexo e, portanto, para mim ficou claro que é um processo que durará seguramente muito e muito tempo. Se for diferente, seguramente, ficarei a saber pela comunicação social, que é o meio de comunicação que a Justiça tem mantido comigo.”

Falta de bom-senso na convocação de eleições antecipadas

António Costa deixou mais farpas a Marcelo Rebelo de Sousa. Falou da falta de bom-senso em convocar eleições antecipadas para 10 de março de 2024 e desencadear uma crise política, "num cenário internacional muito pesado". O primeiro-ministro demissionário propôs um novo Governo do PS, liderado por Mário Centeno.

Este é o tempo de "mobilizar os portugueses" que, à semelhança da última "crise irresponsável", "agora devem resolver esta nova crise política irresponsável", atirou o chefe do Governo.

António Costa diz que não cabe ao Partido Socialista intrometer-se no tempo da justiça. Em declarações aos jornalistas à saída da Comissão Nacional do PS, o primeiro-ministro demissionário acrescentou que o partido deve agora concentrar-se na campanha interna e, depois nas eleições legislativas.

António Costa confirmou aos jornalistas que não apoiará nenhum dos candidatos à liderança do PS, mas que participará ativamente neste momento do partido.

O ainda secretário-geral do PS acrescentou que esta pode não ser a última vez que Marcelo dissolve o parlamento, sublinhando que se a direita governar com o Chega, a instabilidade política pode ser real.

"Aquilo que todos desejamos é que esta tenha sido a última dissolução do atual Presidente da República. Esta era totalmente despropositada e desnecessária, mas está feita. Agora, ser forçado a fazer outra dissolução, não. Para isso, é essencial que a direita não seja maioritária na Assembleia da República e possa haver outras soluções de Governo, porque o Chega não existe para governar, existe para protestar", atirou António Costa.

Durante a Comissão Nacional, que decorreu à porta fechada, Ferro Rodrigues acusou justiça de ter interrompido o curso do governo do PS. "O Governo de maioria absoluta que o PS conquistou contigo ao leme foi destruído por atos e omissões da PGR e do Supremo Tribunal de Justiça, pelo menos", disse o ex-líder.

As eleições internas do PS acontecem a 15 e 16 de dezembro.

[notícia atualizada às 14h45]