O encerramento de escolas e outras medidas restritivas contra a pandemia de coronavírus já tinham sido recomendados, a 2 de março, pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. O Governo português avançou com o fecho dos estabelecimentos de ensino dez dias depois.
Segundo o documento entretanto divulgado (leia aqui em formato PDF), o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças tinha recomendado no início do mês o fecho de estabelecimentos de ensino e locais de trabalho, o cancelamento de reuniões e o distanciamento social para países com crescente número de contágios.
Só esta quinta-feira, o Governo impôs medidas restritivas, dia em que o organismo europeu as considerou de aplicação necessária e imediata face ao substancial agravamento da situação.
O primeiro-ministro, António Costa, invocou o segundo relatório do mês de março do Conselho de Prevenção de Doenças, mas já no início do mês as medidas restritivas eram já recomendadas face ao cenário de propagação do vírus.
Em declarações à Renascença, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, defende que as medidas de contenção deviam ter começado mais cedo e que o Governo “podia ter ido mais longe”.
“A Ordem dos Médicos tem vindo a defender que estas medidas já deviam ter sido tomadas há mais tempo. Antes de 2 de março, a Ordem e a Apifarma recomendaram fortemente a todos os médicos e a todas as organizações que anulassem os congressos, as reuniões científicas, e as passassem para setembro ou depois, antes do próprio conselho europeu.”
Miguel Guimarães afirma que o problema do coronavírus "não é propriamente novo" e todo o mundo viu o que aconteceu na China e noutros países.
O bastonário deixa, nestas declarações à Renascença, duras críticas ao Conselho Nacional de Saúde Pública, que na quarta-feira esteve reunido e não recomendou o encerramento de todas as escolas em Portugal.
“O que não é nada e de todo compreensível é a decisão do Conselho Nacional de Saúde Pública tomou. Se este Conselho Nacional de Saúde pública é a equipa de peritos que toma decisões sobre esta matéria, é um bocado complicado. Coloca em causa o papel deste organismo", afirma Miguel Guimarães.
O bastonário da Ordem dos Médicos considera que esta questão não põe em causa o Ministério da Saúde, mas coloca em evidência que há problemas de aconselhamento.
“Não queria falar em descoordenação. Até agora, a sra. diretora-geral da Saúde, a sra. ministra e o Governo, como um todo, tomaram as decisões que acharam mais adequadas. O que me deixa mais preocupado, além do atraso destas medidas, é o facto de provavelmente estas pessoas que estão a tomar decisões estão a ser aconselhadas pelo Conselho Nacional de Saúde Pública e, se estão a ser aconselhadas pelo Conselho, as coisas podem correr menos bem. Espero que daqui para a frente haja um diálogo maior”, apela Miguel Guimarães.