O presidente da Associação de Médicos Portuguesa de Saúde Geral e Familiar, Nuno Jacinto, diz que o problema em Portugal não é a falta de formação de médicos de família, mas passa pela incapacidade de os fixar no Serviço de Nacional de Saúde.
Jacinto explica à Renascença que a grande dificuldade que tem acontecido em Portugal nos últimos anos não tem sido o número de especialistas que conseguimos formar em cada ano, “porque esse tem andado muito acima dos 450, em torno dos 500 por ano”.
A questão fundamental, sustenta, “tem sido a incapacidade que tem havido por parte da tutela em fixar os recém-especialistas, jovens médicos de família ao nível do SNS”.
“Não basta abrir vagas para o internato, é importante sabermos o que fazer com esses colegas quando acabarem essa especialidade. É importante que lhes demos as condições para que possam ficar a trabalhar no SNS, onde efetivamente são necessários”, justifica.
A reação surge depois de o ministro da Saúde anunciar este domingo que o número de vagas para as especialidades em 2023 vai ser “bastante superior” às 1.500 anteriores, garantindo acesso à formação especializada a todos os médicos com formação geral em 2022.
Segundo o presidente da Associação de Médicos Portuguesa de Saúde Geral e Familiar para que haja mais médicos de família no SNS “não basta abrir estas vagas de internato”.
“É importante depois, quando estes colegas se tornam especialistas, médicos de família, garantir que há condições necessárias ao seu trabalho. É necessário começar a trabalhar já nesta altura, não só para que estes colegas fiquem, mas para os que já estão no SNS não saiam”, adianta.
Ainda assim, o mesmo Nuno Jacinto considerou que é positivo que haja uma aposta na formação em especialistas em medicina geral e familiar e que isso se traduza num aumento das vagas disponíveis para o internato que se vai iniciar em 2023, “sobretudo quando sabemos que há uma grave carência de médicos de família no SNS, nomeadamente em Lisboa e Vale do Tejo”.
Na mesma entrevista no domingo, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, disse que não faz sentido formar médicos se não se conseguir garantir vagas a todos.
O ministro avisou, todavia, que não vai ser possível todos terem a especialidade que querem.
“Se todos quiserem ser cirurgiões, não vai ser possível, ou todos oftalmologistas também não vai ser possível, mas garantir que todos possam ter uma especialidade, isso está ao nosso alcance se trabalharmos em conjunto”, observou.