O vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) considera que o plano de reabertura da sociedade apresentado esta quinta-feira pelo primeiro-ministro “muito dificilmente vai ser cumprido”.
Entrevistado pela Renascença, Gustavo Tato Borges lembra que “os níveis e os critérios definidos para poder continuar com o desconfinamento são muito rígidos, muito apertados”, embora reconheça que “em termos de saúde pública, é uma boa medida”.
Para este médico de saúde pública, o calendário definido pelo Governo aponta “datas de reavaliação” e não de desconfinamento, “porque vamos ficar parados durante algumas semanas para ver como é que a evolução da pandemia vai acontecer”.
Entre os critérios “rígidos” apontados por Gustavo Tato Borges está o facto do plano depender dos 120 casos de Covid-19 por cada 100 mil habitantes e a estabilização do índice de transmissibilidade (Rt) inferior a 1.
“Esta ambição do Governo é uma boa ambição”, mas “há mais fatores que era preciso ter em atenção”, reconhece.
Tato Borges diz que “falta perceber como é que estes dois fatores vão conjugar com outros critérios importantes, como, por exemplo, a mortalidade associada aos casos de Covid, os níveis de internamento hospitalar e, ainda, a proporção de casos associados às novas variantes, que vão surgindo, e que são mais preocupantes”.
Numa altura em que a maioria dos casos de Covid-19 tem origem na variante identificada no Reino Unido, o vice-presidente da ANMSP reconhece que o critério de 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias “pode significar pouco se tivermos 100 casos por 100 mil habitantes todos da nova estirpe inglesa, porque o potencial de transmissão e de crescimento da pandemia é muito superior do que ter 100 casos por 100 mil habitantes da estirpe normal da Covid-19”.