O presidente da Câmara de Lisboa (CML) visitou esta segunda-feira as instalações do Comité Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude, onde se prepara o evento que a cidade vai acolher entre 1 e 6 de agosto de 2023. No edifício do Beato, que foi cedido pela própria CML, Carlos Moedas anunciou o reforço da equipa da autarquia que trabalha para o evento, e que também vai passar a ter ali um gabinete.
“A equipa da câmara vem para aqui trabalhar. Pedi ao senhor vice-presidente para fazer a contratação de uma equipa que estará aqui neste espaço físico, que é da câmara. Vamos ter um coordenador, David Lopes, e mais duas pessoas, o engenheiro Jorge Oliveira Carmo e o Álvaro Covões, que é um especialista nesta área e nos virá ajudar. E vamos ter mais pessoas que vêm da própria câmara, uma equipa que vai estar a trabalhar no dia a dia deste grande evento”, revelou o autarca.
“Esta casa é nossa, da CML, e é vossa. Temos uma grande equipa e um grande entusiasmo, por isso nada vai falhar”, afirmou ainda Carlos Moedas, que se dirigiu de forma especial aos muitos voluntários que o foram acolher à entrada. “É um dia para vos agradecer. Temos muitos projetos para a cidade, mas não há nenhum que toque tanto a nossa alma e a nossa vida como este”.
“Nunca se vão esquecer disto. Se há momento transformador para a cidade vai ser este”, disse o autarca, revelando que em 2023 também vai acolher em casa jovens peregrinos. “Eu vivi estas Jornadas em Paris, nos anos 90. A pessoa que na altura nos acolheu hoje tem 5 filhos e há dias telefonou-me a pedir para eu receber os filhos aqui, em Lisboa, para as Jornadas Mundiais da Juventude”, contou.
“A vossa dedicação inspira-me como presidente da câmara”, assegurou ainda Moedas, que se afirmou muito “entusiasmado”, sobretudo “como engenheiro”, porque “nada pode falhar. E só vai correr bem se nos detivermos nos detalhes”.
Custos? “Estamos a trabalhar com estimativas”
Sobre o dinheiro que vai ser investido na JMJ, Carlos Moedas lembrou que as contas finais ainda não podem ser feitas. “O problema é que estarmos a dar um número hoje, não será nunca um número final, porque estamos a trabalhar com uma estimativa. Aliás, ainda não sabemos neste momento quantos virão: um milhão e meio de pessoas? Dois milhões? Um milhão e duzentos mil?”.
“Como já referi várias vezes, o investimento da câmara pode ir até aos 35 milhões de euros. Mas, o ponto aqui não é o dinheiro, porque é investimento que sempre quisemos fazer. Qualquer cidade investe porque sabe que o retorno que vai ter é enorme, para a cidade e para a vida das pessoas. Obviamente têm de se fazer contas e são feitas por todos nós”. Da parte da câmara, garantiu, haverá “disponibilidade total” para encontrar respostas e soluções, por exemplo, quanto aos locais onde os vários momentos da JMJ irão decorrer, e que ainda não estão todos definidos. “Para mim, o importante é que a Igreja esteja confortável, porque a Igreja é que é o grande promotor do evento. Mas, nós estamos aqui apara ajudar em tudo o que for necessário. Se houver alguma mudança em algum dos sítios escolhidos, ou surgir mais uma atividade ou evento, a CML estará lá" a responder, sublinhou.
No verão, a câmara de Lisboa exigiu que o governo assumisse parte das despesas, mas esta segunda-feira Carlos Moedas não quis dizer se já há um valor concreto para essa comparticipação. “Isso terá de perguntar ao governo”, respondeu à Renascença, adiantando que “o que está muito claro no acordo é quem faz o quê, e há partes que o governo se comprometeu a fazer. Tudo o que é segurança e o que tem a ver com a saúde são responsabilidades nacionais, e têm de ser. E a Igreja também terá um esforço financeiro”, sublinhou.
O acordo (ou memorando de entendimento), na prática, não chegou a ser assinado, mas Carlos Moedas acredita que cada parte cumprirá com o que se comprometeu. “Não tenho nenhuma assinatura formal, e acho que não precisamos, mas se a senhora ministra (Ana Catarina Mendes) quiser... É um acordo que está dito, está feito, e para mim, isso é o que vale, é o entendimento. Sabemos o que é que faz a Igreja, a CML e o Estado, e no fim estamos todos juntos. Isso é que é importante”, garantiu.
“Queremos cobrar o menos possível”
Apesar da insistência dos jornalistas, o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 não disse quanto é que a Igreja vai gastar no evento, até porque a incerteza da guerra vai continuar a baralhar as contas. Mas, na próxima semana já será possível anunciar o preço para as inscrições dos jovens, e contam vir a “cobrar o menos possível. Que seja muito próximo daquilo que foram os números da última edição (da JMJ) do Panamá, que custou 200 e qualquer coisa euros”, revelou D. Américo Aguiar.
As inscrições para a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa deverão abrir até final de outubro, e o Papa será o primeiro a registar a inscrição. O valor a pagar por cada jovem peregrino ficará definido antes.
“Dias 17, 18 e 19, em Fátima, haverá um encontro com os representantes da Pastoral da Juventude do mundo inteiro, uma comitiva de mais de 300 pessoas de quase todos os países do mundo. Esse é o deadline: até esse dia vamos ter de fechar o número com o Dicastério (para os Leigos, a Família e a Vida, do Vaticano), e então será comunicado o valor. A partir daí acabou o tabu”, garantiu o bispo.
Como tem sido habitual em todas as visitas ao COL de Lisboa, também a deslocação de Carlos Moedas foi assinalada com o descerramento de uma placa. No discurso de boas-vindas o bispo auxiliar de Lisboa sublinhou a colaboração e disponibilidade da autarquia, e considerou “particularmente simbólico” que um edifício que já “serviu os militares” e “foi pensado para a logística da guerra”, esteja agora a ser usado para “a logística de um encontro da paz e fraternidade”. E espera que o espaço possa depois “ter continuidade em projetos ligados aos jovens. Que tudo o que aqui está e nos foi dado e emprestado, no dia a seguir à JMJ possa ter outros protagonistas”, referiu.
Visita do Papa justifica retirada de cartazes do Marquês
Carlos Moedas aproveitou a visita às instalações do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude para afirmar que não faria sentido vir a receber o Papa no próximo ano com o Parque Eduardo VII poluído com cartazes de propaganda política no Marquês, quando nem sequer haverá eleições em Portugal. E reafirmou que a decisão de retirar os cartazes foi “legal”.
“Fizemos tudo dentro da legalidade. Era importante ter a coragem para o fazer. E aqui está também uma excelente razão para que o Marquês de Pombal não tenha qualquer tipo de publicidade política: numa altura em que vamos receber um evento desta natureza, imagine o que seria ter Sua Santidade, o Papa, todas as pessoas, e cartazes políticos no meio do Marquês! Seria muito estranho”, afirmou aos jornalistas.
No final da semana passada a Comissão Nacional de Eleições disse que a autarquia não tinha poder para retirar os 'outdoors', e falou num possível 'crime de dano', mas o autarca não recua na decisão, garantindo que os lisboetas “não querem aquela poluição visual" e que não faria sentido voltar a colocá-los.
“Respeitarei todas as decisões que forem tomadas em relação à ilegalidade, mas não é ilegal. Aquilo que fizemos é legal”, reafirmou.