O presidente bielorrusso Alexander Lukashenko afirmou, no sábado, que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, lhe assegurou uma “ajuda” para garantir a segurança no país, no seguimento dos protestos contra a sua reeleição.
O presidente chegou a um entendimento com Putin, que lhe disse que “uma ajuda completa será garantida, para assegurar a segurança da Bieolorrússia”, afirmou Lukashenko à agência pública Belta, depois de uma conversa telefónica entre os dois presidentes. “Quando há uma questão de dimensão militar, nós temos um acordo com a Federação russa, no âmbito da União (da Rússia e da Bielorrússia)”, frisou o dirigente.
Para o Kremlin, “o mais importante é que estes problemas não beneficiem as forças destrutivas que procuram prejudicar uma colaboração mutuamente vantajosa” entre a Rússia e a Bielorrússia, aliança que se mantém entre as duas ex-repúblicas soviéticas.
Ouvido pela Renascença, o major-general Bacelar Begonha diz que não estudou a situação a fundo, mas que Lukashenko parece adotar uma posição clássica.
Na opinião de do major-general, trata-se de um “problema interno” que Lukashenko quer transformar numa “questão externa”.
“Se ele está a pedir proteção, se for preciso, vai pedir proteção a quem? Só vai pedir à Rússia. E sabe que a Rússia dá, se for preciso”, comenta.
Lukashenko. Repetir eleições seria a "morte da Bielorrússia como Estado e como nação”
Lukashenko afirmou, este domingo, em Minsk, que “nem morto” permitirá a entrega do país, na primeira manifestação de apoio desde que tiveram início as ondas de protesto popular há uma semana.
“Conseguimos construir um belo país, com suas dificuldades e falhas. A quem o querem entregar? Se alguém o quiser entregar eu não o permito, nem morto”, disse Lukashenko citado pela agência bielorrussa Belta, a partir de uma tribuna instalada na Praça da Independência.
Vários milhares de pessoas, muitas com bandeiras bielorrussas, reuniram-se na praça em frente à Casa do Governo, este domingo.
Imprensa conotada com a oposição refere que muitos dos participantes do comício foram levados para Minsk em autocarros contratados pelas autoridades.
"Queridos amigos, chamei-vos não para me defenderem, mas também vieram para que, pela primeira vez em um quarto de século, defendamos o nosso país, as nossas famílias, as nossas esposas e irmãs, os nossos filhos", disse Lukashenko.
O presidente bielorrusso, no poder há 26 anos, e que, segundo a Comissão Eleitoral Central do país, foi reeleito no dia 9 de agosto com pouco mais de 80% dos votos, rejeitou categoricamente a possibilidade de realizar novas eleições presidenciais.
"Há tanques e aviões a cerca de 15 minutos de voo da nossa fronteira. As tropas da NATO rangem os rastros dos tanques à nossa porta. Lituânia, Letónia, Polónia e, infelizmente, a nossa amada Ucrânia ordenam que realizemos novas eleições. Se aceitarmos, vamos despencar-nos", alertou.
Lukashenko sublinhou que a repetição das eleições presidenciais significaria a "morte da Bielorrússia como Estado e como nação".
“Eles propõem-nos um novo governo, já o formaram no exterior, já são dois, mas não acertam quem nos vai governar. Não precisamos de um governo de fora, precisamos do nosso governo e vamos elegê-lo”, enfatizou.
O Presidente bielorrusso já tinha recusado a ajuda externa proposta na quarta-feira pela Letónia, Lituânia e Polónia, que avançaram com um plano de mediação que prevê a criação de um “conselho nacional” para resolver a crise política em curso.
Também os chefes de diplomacia da União Europeia acordaram impor sanções ao regime de Minsk na sequência das eleições presidenciais de domingo passado, visando os responsáveis pela alegada fraude nos resultados e pela repressão violenta das manifestações.
“Sem querer ofender os líderes dessas repúblicas, gostaria de lhes dizer para cuidarem dos seus próprios assuntos”, disse o chefe de Estado bielorrusso, citado pela AFP. Segundo adiantam a agência estatal Belta e a AFP, o dirigente afirmou também, durante a reunião de sábado no Ministério da Defesa, que o país não precisa “de nenhum governo estrangeiro, de nenhum mediador”.
Desde o passado domingo que a Bielorrússia é palco de uma onda de protestos contra a reeleição do Presidente, Alexander Lukashenko, que muitos, incluindo a UE, consideram fraudulenta.
A principal candidata da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya, cujas ações de campanha atraíram multidões de eleitores frustrados com o Governo autoritário de 26 anos de Lukashenko, terá obtido apenas 10% dos votos.
Durante a semana, refugiou-se na Lituânia, de onde lançou um apelo para a realização de "massivas manifestações pacíficas" em todo o país, durante o fim de semana.
Mais de 6.700 pessoas foram presas desde domingo durante ações de protesto e centenas dos já libertados relataram cenas de tortura sofridas na prisão.