Primeiros voos humanitários chegam a Tonga cinco dias depois do vulcão e tsunami
20-01-2022 - 07:30
 • João Cunha

As estimativas das Nações Unidas indicam que mais de 80% da população de Tonga, de cerca de 100 mil habitantes, foi afetada

Os primeiros voos humanitários chegaram a Tonga, atingida pela violenta explosão de um vulcão, que originou um tsunami registado em praticamente todo o planeta. Há cinco dias que aquela nação do Pacífico está separada do resto do mundo.

Desde sábado que Tonga está inacessível, depois de uma das maiores explosões vulcânicas das últimas décadas que encobriu a maioria das 170 ilhas que formam o arquipélago de uma camada de cinzas, desencadeou um tsunami à escala mundial e cortou cabos vitais de comunicação submarina.

Só esta quinta-feira aviões de transporte militar da Austrália e da Nova Zelândia conseguiram aterrar no principal aeroporto de Tonga, depois de limpo de uma espessa camada de cinzas.

Um C-17 Globemaster partiu da base aérea de Amberley, na Austrália, com ajuda humanitária de socorro, incluindo "recipientes de água, kits para abrigos temporários, geradores, kits de higiene e família e equipamentos de comunicação", disse a ministra neozelandesa das Relações Exteriores, Nanaia Mahuta.

A Austrália e a Nova Zelândia também estão a enviar ajuda por mar, com os navios da Marinha Real da Nova Zelândia HMNZS Wellington e HMNZS Aotearo, que devem chegar na sexta-feira às águas de Tonga.

A bordo estão carregamentos de água potável e uma unidade de dessalinização de 70 mil litros de água por dia, bem como pessoal hidrográfico e de mergulho da marinha para pesquisar os canais de navegação.

O navio de socorro militar australiano HMAS Adelaide também está de prontidão em Brisbane, de onde deverá sair para o arquipélago, na sexta-feira.

O Japão anunciou, entretanto, que vai enviar duas aeronaves C-130, e outras nações - desde a China à França - indicaram que também vão fornecer assistência humanitária.


Desastre sem precedentes

As primeiras imagens a surgir da capital de Tonga, Nuku'alofa, mostra prédios cobertos de cinzas, paredes derrubadas e ruas repletas de pedras, troncos de árvores e outros detritos trazidos por uma imensa massa de água que entrou terra adentro.

As estimativas das Nações Unidas indicam que mais de 80% da população de Tonga, de cerca de 100 mil habitantes, foi afetada. As avaliações iniciais dos especialistas em ajuda de emergência indicam uma necessidade urgente de água potável.

Três pessoas morreram quando o vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai explodiu, provocando um tsunami que destruiu casas e provocou inundações generalizadas.

O governo de Tonga classificou a situação como "um desastre sem precedentes" e informou que ondas de até 15 metros destruíram quase todas as casas em algumas ilhas periféricas.

"O abastecimento de água em Tonga foi severamente impactado pelas cinzas e pela água salgada do tsunami", indicou Katie Greenwood, da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, que alertou para um "risco crescente de doenças como cólera e diarreia".

Quando a caldeira submarina explodiu, lançou detritos a mais de 20 quilómetros de altura, depositando cinzas e chuva ácida que envenenaram o abastecimento de água.

Um arquipélago em estado de emergência

País insular na Polinésia, Tonga é periodicamente abalado por terremotos e outros eventos extremos. Ao longo dos 40 mil quilômetros do Círculo de Fogo do Pacífico, ocorrem terremotos e tsunamis.

No relatório de risco mundial de 2021 da ONG alemã Ajuda para o Desenvolvimento de Alianças, Tonga ocupa o terceiro lugar entre os países com maior risco de um evento natural extremo resultar em catástrofe.

Apenas nos últimos 12 anos, houve três catástrofes naturais em Tonga. A 13 de fevereiro de 2010, ocorreu um sismo de 6,3 pontos na escala Richter. Dois dias mais tarde, um ciclone com ventos de até 230 quilómetros por hora varreu as ilhas. E a 11 de janeiro de 2014, uma intempérie voltou a devastar a região, atingindo em especial o grupo de ilhas Ha‘apai e sua capital, Lifuka.

No dia 14 de janeiro, o vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha‘apai, periodicamente ativo, irrompeu mais uma vez, desencadeando um maremoto classificado como o mais forte dos últimos 30 anos.