Dos privados à taxa "fast food". O que pensa o novo ministro da Saúde?
24-11-2015 - 16:57
 • João Carlos Malta

Adalberto Campos Fernandes vai ser ministro da Saúde. Saiba o que pensa.

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O novo titular da pasta da Saúde é um médico. É especialista em Saúde Pública e foi director do maior hospital do país, o Santa Maria, em Lisboa.

Adalberto Campos Fernandes tem 57 anos, apoiou António José Seguro, mas chega ao Governo com António Costa. Durante os últimos meses, foi uma espécie de ministro-sombra socialista para esta pasta, depois de o secretário-geral do PS lhe ter dado o papel de coordenador.

Apresentou na semana passada a tese de doutoramento “A combinação público-privado em saúde: impacto no desempenho no sistema e nos resultados em saúde no contexto português”, em que defendeu que, apesar dos ganhos de eficiência que trouxe ao sistema, os privados não “melhoram necessariamente a saúde” em Portugal.

Há uma semana, afirmava sobre a possível chegada à pasta da Saúde: “Not a word [nem uma palavra]”. Conheça agora as várias palavras que Campos Fernandes disse nos últimos anos sobre a área que vai tutelar.


Sector privado: “Há efeitos positivos e ganhos de eficiência, mas o crescimento do privado não significou necessariamente melhoria da saúde” - entrevista à Visão, em Novembro de 2015

Recuperar o SNS: "Está na altura de devolver o Serviço Nacional de Saúde aos portugueses e está na altura também de tirar das notícias dos jornais aquilo que hoje é um exemplo de uma política baseada na ficção, falsidade, falta de verdade para com as pessoas, numa grande falta de respeito pelas necessidades das pessoas que não podem fazer parte daqueles que gastam (em Saúde) 32 euros directos em cada 100 - algo nunca visto" - entrevista à TVI 24, em Maio de 2015

Acesso aos cuidados de saúde: "Nunca como hoje os portugueses pagaram tanto pela saúde e lhes foi tão difícil aceder aos cuidados a que têm direito" - entrevista à TVI 24, em Maio de 2015

Aumento das taxas moderadoras: “Foi exagerado e constituiu-se como barreira de acesso. As iniquidades e assimetrias no acesso a medicamentos e tratamentos nos hospitais mantêm-se. Por outro lado, somos o quarto país da OCDE em peso dos pagamentos directos em despesas de saúde. Apesar de termos um SNS pré-pago através dos impostos, e tendencialmente gratuito na utilização, a saúde está a ser tendencialmente paga no momento do uso de cuidados” - entrevista ao jornal "i", em Setembro de 2013

Financiamento: “Este Governo, tal como os anteriores, está a ser vítima da própria estratégia de não considerar a questão do financiamento prioritária. A continuar assim, o próximo Governo terá de fazer um programa igual para acertar dívidas que correm o risco de atingir este ano as que existiam aquando do Memorando e vai usar a mesma linguagem de que está a pagar factura do passado” - entrevista ao jornal "i", em Setembro de 2013

Avaliação à acção de Paulo Macedo: “Quase mil milhões depois de poupanças em medicamentos, trabalho bem feito, há a sensação de que o incêndio foi apagado com um copo de água. Temos falta de resultados na reforma estrutural, criando um modelo mais ágil, mais moderno. Um Governo que não consegue reformar o sistema com a protecção da troika vai tornar mais difícil a qualquer outro fora desse enquadramento fazer reformas. Há uma sensação de tempo e oportunidade perdida” - entrevista ao jornal "i", em Setembro de 2013

Modelo de financiamento: “Deverá manter a sua base de contribuição fiscal na medida em que desta forma se garante uma maior equidade contributiva e um melhor equilíbrio nos princípios da cobertura geral e da universalidade. Num país onde persistem importantes desigualdades no rendimento cumpre ao Estado assegurar a mutualização do risco e salvaguardar a equidade no acesso a cuidados de saúde de qualidade. Tal não invalida a necessidade de tornar mais eficiente a relação entre financiamento e implementação das políticas de saúde, nomeadamente, através de um maior grau de eficácia na definição de prioridades bem como nos modelos de contratualização utilizados nos diferentes níveis e com as entidades prestadoras de cuidados” - entrevista ao "Jornal Médico", em Março de 2015

Reforma hospitalar: “Uma reforma dos hospitais é necessariamente matéria a tratar no início de uma legislatura. Tal pressupõe que o “trabalho de casa” deverá estar feito antes. Neste último ciclo político verificámos que a recomendação constante no memorando de entendimento de 2011 não teve aplicação atempada por aparente falta de preparação do processo. Daí a sucessão de estudos e de grupos de trabalho que atrasaram uma qualquer decisão acabando por determinar o seu congelamento. Em qualquer caso trata-se de uma reforma complexa e demorada que deve, obrigatoriamente, compatibilizar rigor técnico com adequação social e territorial” - entrevista ao "Jornal Médico", em Março de 2015.

Concentração de recursos nos hospitais: “Este é verdadeiramente o “calcanhar de Aquiles” do sistema de saúde português. Uma excessiva concentração de recursos nos hospitais agravada pela deficiente articulação interinstitucional e incipiente partilha de recursos. A reorientação do sistema de saúde português passa pelo reforço dos cuidados de proximidade e pelo investimento em estruturas e recursos humanos que possam transferir a centralidade do sistema para fora do hospital. Neste sentido é fundamental resolver as “hesitações” políticas quanto aos modelos de organização dos CSP tornando estes fortemente atractivos do ponto de vista profissional e reforçando a qualidade da percepção dos cidadãos face à respectiva importância no contexto do sistema de saúde” - entrevista ao "Jornal Médico", em Março de 2015

Comida rápida taxada: "Tem-se falado muito da fiscalidade verde. Mas da fiscalidade de saúde não. Esta deveria estar orientada para melhores práticas, melhores comportamentos. Hoje já se começa a discutir se comportamentos como a ‘fast-food’ [comida rápida] não devem ter uma penalização fiscal maior. Se não poderia angariar-se aí novas receitas” - entrevista à Renascença, em Março de 2014

Reorientar a investigação: "É necessário desincentivar uma investigação muito virada para a doença e muito pouco para a prevenção. É um trabalho multigeracional" - entrevista à Renascença, em Março de 2014

A epidemia silenciosa: "Temos de estar preparados para uma epidemia silenciosa caracterizada pelo envelhecimento da população, que está a ser muito intenso e até bastante agudizado com o surto de emigração. Nos últimos três anos 300 mil pessoas abandonaram o país, maioritariamente com idade inferior a 35 anos" - entrevista à Renascença, em Março de 2014