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A retirada de militares para o Hospital das Forças Armadas (HFAR) durante o 127.º curso de Comandos, em que morreram dois candidatos, pode ter sido atrasada porque, de acordo com testemunhos prestados à Polícia Judiciária Militar da equipa sanitária da prova, a unidade hospitalar não se sentia capacitada tecnicamente para receber os soldados em dificuldades.
Na prova zero (a principal prova de resistência dos Comandos) do 127.º curso de comandos, que teve início a 4 de Setembro de 2016, morreram dois militares, Hugo Abreu e Dylan Silva. Vários outros instruendos tiveram de receber assistência hospitalar.
Segundo relatos a que a Renascença teve acesso, já no dia seguinte às mortes, quando foi preciso transportar de urgência outros instruendos em dificuldades, a médica que estava de serviço no hospital disse a um colega que acompanhava os candidatos: “Não devias trazer estes militares para o HFAR porque não existem todas as especialidades disponíveis (…) deviam ter ido para um hospital local (…) quem é que os vai assumir? Eu não assumo”.
A falta de capacidade técnica do HFAR não foi o único argumento invocado pela equipa sanitária para pensar duas vezes antes de decidir transportar de urgência quem estava em maiores dificuldades.
Habitualmente, este hospital levanta também problemas de outra natureza, como a limpeza dos doentes que recebe. “Como os instruendos estavam todos sujos de terra, pó e camuflados com os ‘sticks’ de camuflagem, bem como a farda toda suja, e como os enfermeiros e os socorristas sabem que o HFAR não gosta de receber militares sujos, procederam à higiene pessoal de preparação dos mesmos”, refere um dos depoimentos recolhidos.
O candidato a comando Hugo Abreu morreu no campo antes de ser transportado para um hospital. Quanto a Dylan Silva, foi encontrado pelo INEM em estado crítico e sem assistência médica. Foi levado para o hospital do Barreiro e acabou transferido para o Curry Cabral, em Lisboa, onde viria a morrer dias mais tarde, a 10 de Setembro.
Água a menos
Este episódio soma-se a outros do polémico 127.º curso de Comandos.
Esta quinta-feira, a Renascença avançou que todos os instruendos do curso garantem ter ingerido no máximo três cantis de água e não os cinco estabelecidos no guião.
A informação foi apurada pela Renascença através da consulta dos depoimentos prestados à Polícia Judiciária Militar (PJM) por todos os intervenientes no curso.
Ao contrário do que está estabelecido no guião utilizado na prova – e que consta do processo judicial que averigua as mortes dos soldados Hugo Abreu e Dylan Silva – todos os instruendos do curso garantem ter ingerido no máximo três cantis de água em vez dos cinco estabelecidos no guião.
Contactado pela Renascença sobre esta questão, o Exército não faz comentários porque decorre uma investigação aos factos ocorridos no 127.º curso de Comandos.