A exortação apostólica do Papa Francisco sobre a família será publicada esta sexta-feira. A exortação porá fim ao processo iniciado em 2014 e que passou por dois sínodos em Roma.
Os sínodos marcaram profundamente a Igreja Católica. O Papa pediu aos bispos para falarem abertamente e sem receios. E estes não se coibiram de o fazer: houve discussões azedas e admitiu-se a existência de lóbis entre os padres sinodais.
No final foi publicado um documento, aprovado por maioria qualificada dos bispos, mas com alguns dos tópicos mais sensíveis a merecer dezenas de votos contra. O documento foi entregue ao Papa, com o pedido de que ele escrevesse uma exortação ou uma encíclica sobre o assunto.
A questão ficou, assim, nas mãos de Francisco. Na verdade, o Papa não tem de acatar as decisões, nem o documento final dos bispos – o sínodo é apenas um organismo consultivo. Seria estranho, porém, que o Papa que tanto enfatizou a importância da sinodalidade da Igreja ignorasse agora os resultados desse processo.
Acesso à comunhão
Embora o tema do sínodo fosse, no geral, a família, algumas questões acabaram por dominar as atenções. A principal: o acesso aos sacramentos por parte de pessoas em uniões irregulares, referido muitas vezes como o acesso à comunhão por parte de divorciados recasados.
Neste ponto, as expectativas inicialmente altas dos adeptos de uma maior abertura da Igreja foram-se frustrando à medida que se percebeu que a maioria dos padres sinodais não via forma de conciliar o acesso aos sacramentos para quem se encontra neste tipo de uniões com a doutrina da Igreja, que sempre negou a possibilidade de segundos casamentos e o acesso à comunhão e outros sacramentos por quem está em uniões ilegítimas.
Na sua formulação final, o documento dos bispos não aborda directamente a possibilidade de acesso à comunhão pelos divorciados recasados, mas propõe um “caminho de discernimento”, acompanhado caso a caso, “segundo o ensinamento da Igreja e sob as orientações do bispo”.
Este percurso de conversão remete para um conjunto de critérios indicados na Exortação Apostólica de João Paulo II "Familiaris Consortio" e também para um “exame de consciência” das pessoas em causa sobre a forma como trataram os seus filhos ou como viveram a “crise conjugal”. O documento questiona se houve “tentativas de reconciliação”, qual a situação do “cônjuge abandonado” e quais as consequências da nova relação “sobre o resto da família e a comunidade dos fiéis”. “Uma reflexão sincera pode reforçar a misericórdia de Deus, que não é negada a ninguém”.
Este parágrafo 85 do documento final do sínodo foi o mais contestado – mereceu 80 votos contra, num total de 265.
Uniões homossexuais
Outro ponto que gerou bastante polémica durante o sínodo tinha a ver com o eventual reconhecimento de “aspectos positivos” de uniões homossexuais.
O documento final não inclui essa linguagem, limitando-se a reafirmar a posição católica de rejeitar as uniões entre pessoas do mesmo sexo e a sua equiparação ao casamento, ao mesmo tempo que condena claramente qualquer discriminação injusta contra pessoas homossexuais.
Noutros pontos o documento final do sínodo valoriza a família e a vocação ao casamento, com maior insistência na sua preparação e acompanhamento, com o mesmo cuidado e atenção que merecem pastoralmente outros tipos de vocação.
Resta agora aguardar pela exortação apostólica do Papa para saber o que Francisco determina sobre estes e outros assuntos.