Sindicato dos Jogadores e Associação Nacional de Treinadores de futebol acusam o governo de falta de “diálogo com os protagonistas” sobre o corte nos benefícios fiscais do programa “Regressar”, que permitiu a atletas como Di Maria, Pepe, Bruma ou João Moutinho voltar ao futebol português.
Os futuros beneficiários do programa, destinado a profissionais a trabalhar há cinco anos no estrangeiro, ficarão sujeitos a um teto máximo anual de 250 mil euros, quando até agora a tributação incidia sobre metade dos rendimentos auferidos em Portugal, independentemente do valor.
Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, lamenta que o tema não tenha sido discutido com os principais afetados pela alteração.
“Há legislação a ser feita todos os dias sem os atores perceberem para que efeito e com que consequências, nem fazendo uma avaliação. Eu sou um protagonista do desporto, integro o Conselho Nacional do Desporto, e esta questão não foi lá abordada e devia ser”, acusa, em declarações a Bola Branca.
Apesar de apontar o dedo ao governo, Evangelista responsabiliza também os próprios responsáveis do desporto nacional.
“Infelizmente no desporto há pouca gente com pensamento critico e por isso o governo está à vontade para legislar, porque daí não vêm consequências, ninguém se insurge”, afirma.
Também José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, revela não ter tido “conhecimento absolutamente nenhum da alteração da lei” e lamenta a falta de “delicadeza” do governo para com os profissionais afetados.
“Não diria respeito, mas diria que, por delicadeza, as entidades deveriam ter consultado as associações que têm trabalhadores a trabalhar no estrangeiro. Há muitos jogadores e muitos treinadores nesta situação, não se pode menosprezar este leque grande de profissionais que trabalham no estrangeiro”, afirma, em entrevista à Renascença.
Mesma crítica, diferentes análises
Apesar do lamento pela falta de diálogo, José Pereira admite que os “vencimentos auferidos no estrangeiro” pelos treinadores mais “prestigiados” tornaria “quase impossível” que voltassem ao futebol português, mesmo com os benefícios fiscais do programa “Regressar”.
“O sonho de qualquer treinador que esteja no estrangeiro é acabar a sua carreira em Portugal, mas têm de acabar num sítio onde efetivamente lhe proporcionem condições, para não sair pela porta pequena, e isso é difícil de conciliar porque é aquela questão da oferta e da procura”, entende o líder da Associação Nacional de Treinadores.
Por outro lado, o presidente do Sindicato de Jogadores é claro e acusa o governo de estar a cometer “um erro” ao impor um teto salarial. Um equívoco que afeta o futebol, mas também “todos os ativos qualificados que estão no exterior”.
“Nós queremos, ou não, os melhores em Portugal? Queremos, ou não, o regresso dos melhores? O governo tem de o afirmar. Ou quer uma coisa ou quer o seu contrário, as duas coisas em simultâneo não dá. A minha posição é clara, [o limite nos benefícios do programa] é um erro”, conclui Evangelista.