Não haverá um regresso ao serviço militar obrigatório, garantiu esta semana a ministra da Defesa, Helena Carreiras. Essa hipótese foi falada como resposta à continuada diminuição de voluntários disponíveis para ingressarem nas Forças Armadas. O Presidente da República, já em março, havia dito que essa hipótese não está agora em cima da mesa.
Muito boa gente não se resignou com o fim do serviço militar obrigatório. Ele permitia, por exemplo, acentuar a coesão nacional. E se a tendência na maior parte dos países é no sentido de ter Forças Armadas semiprofissionalizadas, nos últimos anos alguns países regressaram ao serviço militar obrigatório; casos nomeadamente da Lituânia, da Suécia e da Ucrânia (antes da invasão russa).
No final do século passado houve uma forte pressão das juventudes partidárias para que acabasse o serviço militar obrigatório em Portugal. Voltar a essa modalidade de recrutamento seria agora muito impopular.
O problema é que as Forças Armadas não conseguem atrair um número suficiente de recrutas contratados. De 2012 para cá diminuiu em cerca de um quarto o número dos que ingressaram nas fileiras militares por essa via.
Diz-se, e é verdade, que esse regime não é suficientemente atrativo. Por isso o Governo tem adiantado algumas medidas, desde logo pagar mais. Mas isso não basta. A carreira militar não tem sido valorizada pelos políticos.
O Presidente Marcelo dedicou a maior parte do seu discurso no 25 de Abril às Forças Armadas, para as quais reclamou mais meios.
Pois este apelo do chefe supremo dessas forças embateu com numerosas incompreensões. A jornalista São José Almeida criticou no Público a prioridade dada ao investimento nas Forças Armadas, sugerindo que tal se devia ao “desejo de voltar a brincar com soldadinhos de chumbo”.
A verdade é que, para muitos portugueses, não é clara a importância dos militares numa democracia civilista, como a nossa. Alguns, mais ou menos conscientemente, estariam até dispostos a abdicar das Forças Armadas, como acontece na Costa Rica, ficando apenas com forças policiais e de segurança.
Os militares fizeram o 25 de abril e depois permaneceram influentes na política com o Conselho da Revolução. Mas esse tempo acabou há muito.
Da parte dos políticos, no poder e na oposição, não houve entretanto o cuidado de fazer uma pedagogia sobre o papel das Forças Armadas numa sociedade democrática. Marcelo Rebelo de Sousa adiantou-se e fez bem. Outros políticos devem também valorizar os militares.