O presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos disse esta quarta-feira que o projeto-piloto criado para reduzir a afluência às urgências hospitalares, envolvendo os centros de saúde, os hospitais e a linha SNS24, vai ser “um falhanço”.
O projeto foi nesta quarta-feira apresentado na Póvoa de Varzim, pelo diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, e preconiza que, antes de se dirigir à urgência hospitalar, o utente ligue para a linha SNS24 e, caso não seja uma urgência hospitalar, será marcada, no momento, uma consulta no centro de saúde.
O projeto arrancou hoje, de forma piloto, nos concelhos da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, no distrito do Porto, envolvendo o hospital de S. João, onde será avaliado durante quatro semanas, sendo objetivo alargá-lo gradualmente a todo o país.
“Se nós avançamos para um modelo sem ter, efetivamente, no terreno capacidade para dar resposta à população, à comunidade que procura cuidados de saúde, obviamente, vai ser um falhanço”, considerou Paulo Simões, no final de uma visita ao hospital de Santarém.
Lembrando que “o que as pessoas querem é ter uma assistência no hospital, no centro de saúde, que seja atempada”, o cirurgião revelou ter dúvidas “se esse período de resposta será o adequado”.
"Ligue antes, salve vidas" para diminuir afluência às urgências
Segundo o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, Fernando Araújo, o Hospital de S. João, no Porto, será incluído no projeto intitulado "Ligue antes, salve vidas", que pretende dar maior preponderância aos Centros de Saúde no tratamento de casos agudos, mas não emergentes.
"Também será incluído a seu tempo. Estamos a constituir uma unidade local saúde entre o hospital S. João e os ACES do Porto Oriental e Maia/Valongo. É importante que nos cuidados de saúde primários as respostas sejam muito bem articuladas. No [hospital] de S. João estamos a trabalhar nessa estratégia, que deve ser concluída nas próximas semanas", disse Fernando Araújo.
Afluência às urgências está a subir
O responsável comentou os números recorde de afluência registados no serviço de urgência desta unidade, na segunda-feira, com 1.028 utentes a recorrer nesse dia à valência, revelando que os motivos para tal procura "ainda não estão totalmente identificados", mas lembrando que é uma tendência nacional.
Fernando Araújo reconheceu que os números da procura pelos serviços de urgência nos hospitais "estão a ultrapassar os níveis da pré-pandemia", apontando que é preciso "medidas rápidas, mas consequentes e robustas, para mudar essa realidade".
"Com este projeto ["Ligue antes, salve vidas"], marcamos logo a data e a hora da consulta, ao contrário do que acontecia antes, em que a pessoa era aconselhada a ir ao Centro de Saúde, mas tinha de marcar a consulta. Agora é a linha SNS24 a indicar a data e o local certo. Isso dá mais confiança às pessoas", analisou o diretor executivo do SNS.
"As medidas para terem sucesso de resposta e resultado precisam de robustez. Iremos avançar inicialmente nos locais que dão mais garantias. Mas de forma célere e iremos para as outras regiões. Nos locais com menos cobertura de médico de família seguiremos com soluções diferentes para esse fim", concluiu o responsável pela direção do SNS.