Os resultados das legislativas em França, com os partidos aliados do Presidente Macron a perderem a maioria absoluta, deixam antever dificuldades de governação num dos países-chave da União Europeia.
A imprensa francesa desta manhã fala mesmo na possibilidade de um país ingovernável, tal ficou repartido o panorama parlamentar. A coligação apoiante de Macron - a coligação "Ensemble", ou seja, "Juntos", venceu, mas só conseguiu eleger 245 deputados, menos 44 que os 289 que seriam necessários para garantir a maioria absoluta.
A que se deveu o fim da maioria absoluta no Parlamento, tendo em conta que Macron foi reeleito Presidente há pouco mais de dois meses?
Nas presidenciais ou era Macron ou Le Pen e muito votantes de esquerda acabaram por optar pelo mal menor. Mas neste caso, o resultado de domingo, mais do que um revés partidário no Parlamento é uma derrota para o próprio Presidente.
Convém lembrar que o sistema político francês é um diferente do português. O Presidente tem muito mais poderes e apesar de haver primeiro-ministro em França, o programa e a iniciativa governativa são definidos, neste caso por Emmanuel Macron.
Quanto aos motivos, são explicados pelos observadores com o descontentamento geral que grassa na sociedade francesa, e que já não é de hoje, por outro lado pela indefinição de Macron em aconselhar o voto na esquerda nos círculos eleitorais onde a decisão se jogava com a extrema-direita. Isto terá levado a que muitos dos votantes de Macron optassem pela abstenção e em contrapartida gerasse uma subida da votação nos extremos.
A extrema-direita registou um aumento de votação?
O partido e Marine Le Pen, a União Nacional, tinha apenas oito deputados na assembleia nacional francesa e elegeu agora 89, é o melhor resultado de sempre da extrema-direita no Parlamento francês. Mas a coligação de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon também tem grandes motivos para celebrar porque obteve 131 lugares e passa a ser segunda força partidária e, sobretudo, por ver Macron perder a maioria.
O que segue?
Tudo se encaminha para um cenário de instabilidade. Uma possibilidade era negociar um acordo com os Republicanos, partido de direita, que obteve 61 deputados, e que permitiria garantir uma maioria absoluta, mas o líder dos Republicanos já excluiu essa hipótese, garantindo que vai continuar na oposição. Portanto, deveremos ter uma situação em que o Governo francês vai ter de negociar caso o caso, um pouco à semelhança do anterior Governo minoritário de António Costa em Portugal, que acabou por conduzir a eleições antecipadas.
Macron terá ainda alguma carta na manga?
Em política, como se sabe, as possibilidades surgem por vezes de onde menos se espera. Para já veremos se opta por manter a atual primeira-ministra, que está no cargo há pouco mais de um mês, se opta por uma remodelação governamental que inclua a chefia do Governo e possa facilitar eventuais acordos parlamentares. Mas como diz esta manhã o jornal Le Parisien estas eleições são um salto no desconhecido.