Tem sido uma constante desde que Luís Montenegro se tornou líder do PSD e, aparentemente, a tendência é para manter: Aníbal Cavaco Silva vai fazer uma nova intervenção pública a 20 deste mês, no encontro nacional dos Autarcas Social-Democratas (ASD), em Lisboa, que vai ser encerrado pelo líder do partido, Luís Montenegro.
A informação é confirmada à Renascença pelo presidente da ASD e presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder Sousa Silva, que descreve a presença do antigo Presidente da República e primeiro-ministro como algo que “engrandece” o encontro, elogiando também o currículo do convidado: “Um dos homens que rotulamos com maior visão, sensibilidade, conhecimento e experiência."
Cavaco Silva vai encerrar o encontro de mote “Autarquias. Que futuro?”, que vai ter a habitação e a coesão territorial como temas principais. À semelhança do que tem acontecido nos últimos meses, é expectável que não poupe em críticas ao Governo durante a ocasião.
“Ninguém melhor do que Aníbal Cavaco Silva se destaca pelos alertas sobre a situação em Portugal e sobre os desafios no quadro global que o país enfrenta”, assume Hélder Sousa Silva, que admite desconhecer o conteúdo da intervenção que o antigo presidente da República vai preparar.
No mês passado, o antigo líder do PSD recusou-se a responder às questões dos jornalistas relacionadas com a governação socialista, à margem da conferência “Cinco décadas de democracia: o que mudou?”, no Quartel do Carmo. Na altura, foi lacónico em relação ao seu estado de espírito e devolveu a pergunta: “Há alguma razão para deixar de estar preocupado com o Governo?”
Mais alongado e direto foi em março deste ano, no dia em que se assinalou os 30 anos do Programa Especial de Realojamento (PER), altura em que Cavaco Silva arrasou o pacote Mais Habitação do Governo de António Costa e aconselhou o primeiro-ministro a “encostar-se à credibilidade das câmaras municipais” para resolver os problemas relacionados com a habitação em Portugal.
As ondas de choque propagaram-se de tal forma que o PS devolveu as críticas ao antigo presidente da República, a quem acusaram de optar pela crítica destrutiva.
No ano passado, Cavaco Silva foi também duro nas palavras que escolheu ao classificar como “desorientado” o Governo de maioria absoluta do PS, assinalando o que considera ser a falta de “vontade reformista”, num artigo de opinião escrito para o jornal Público - o terceiro em poucos meses.
Como senador, o antigo presidente da República tem dado a mão ao PSD de Montenegro ao juntar-se ao coro de vozes de oposição à maioria socialista. Desta vez, deve fazê-lo também no 3.º Encontro Nacional dos Autarcas Social-democratas.
Já a ASD não quer colocar a mira no Executivo: “Os autarcas querem é que o Governo governe, porque diariamente interagimos com vários membros do Governo. (…) Não nos move, neste caso, qualquer tipo de crítica ao Governo. O que queremos é debater o futuro das autarquias e aquilo que gostariam de ver acontecer", garante Hélder Sousa Silva, que acrescenta que as mudanças podem ser protagonizadas “por este Governo ou por outro que o venha a suceder”.
Moedas, Moreira e Isaltino na caldeira da habitação
O encontro dos autarcas do PSD vai contar também com a presença de três presidentes dos concelhos mais populosos (e ricos) do país para discutir o problema da habitação: Lisboa, Oeiras e Porto.
Carlos Moedas, Isaltino Morais e Rui Moreira são três dos autarcas que mais dores de cabeça têm com o problema da habitação. Apesar de Isaltino e Rui Moreira terem concorrido como independentes, e não nas listas do PSD, são dois convidados do encontro para discutir o papel das autarquias e do PRR no problema da habitação. Rui Moreira tem sido apontado possível cabeça de lista às Eleições Europeias no próximo ano - possibilidade já admitida por Luís Montenegro em entrevista à CNN.
Os três autarcas têm sido altamente críticos do programa de habitação apresentado pelo Governo em fevereiro e vão dar as suas opiniões num painel que vai ser moderado por Vítor Reis, ex-presidente do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), que conta ainda com a presença de Fermelinda Carvalho, autarca de Portalegre, e de António Leitão Amaro, vice-presidente do PSD.
Antes da habitação, a coesão territorial e a descentralização vai estar em destaque. “Foi um processo que começou e que está longe de estar terminado, além de todas as trapalhadas que existiram até à data”, critica Hélder Sousa Silva, líder da ASD.
Nesse painel, onde se quer também discutir a Lei de Finanças Locais, Manuel Castro Almeida, ex-autarca de São João da Madeira e antigo secretário de Estado do Desenvolvimento Regional vai moderar o debate com Ricardo Rio (presidente da Câmara Municipal de Braga), Olga Freire (presidente da Junta de Freguesia da Cidade da Maia), Eutália Teixeira (presidente da Assembleia Municipal de Castro Daire) e Joaquim Miranda Sarmento (líder parlamentar do PSD).