Os professores do ensino superior e investigadores das instituições públicas perderam 30% do poder de compra desde 2009 e, por isso, vão entregar esta semana uma petição no Parlamento a exigir aumentos salariais.
Uma delegação do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) vai entregar na quinta-feira na Assembleia da República um abaixo-assinado que dá “nota de algumas das inquietações que se vêm acumulando no ensino superior e na ciência, sobretudo relacionados com os vencimentos, carreiras e alguma instabilidade”, contou à Lusa o presidente do SNESup, José Moreira.
Segundo o dirigente, “as perdas de poder de compra já vão em 30% desde 2009”, o que significa que nos últimos 14 anos “os docentes e investigadores perderam um em cada três vencimentos”.
“Quando olhamos para o recibo de vencimento, em termos líquidos, não estamos muito longe do que recebíamos em 2000, mas em termos de poder de compra diminuiu substancialmente”, acrescentou.
Por isso, a petição, que já conta com assinaturas suficientes para subir a plenário (7.755 assinaturas), pede uma atualização dos índices remuneratórios de maneira que permita recuperar o poder de compra.
“Não estamos em situação diferente dos médicos e de outros profissionais de saúde ou dos oficiais das Forças Armadas, que têm o mesmo tipo de problemas. Defendemos que todas as carreiras devem ser valorizadas. A única carreira que - e bem - não viu uma perda substancial do seu poder de compra foi a carreira dos senhores magistrados, quer dos juízes, quer dos magistrados do Ministério Público”, disse à agência Lusa.
Outra das reivindicações de professores e investigadores está relacionada com o modelo de progressão horizontal, que define que são precisos seis anos consecutivos com avaliação máxima para poder haver progressão remuneratória.
Resultado: “Há professores há mais de 20 anos sem progressão”, contou, explicando que basta haver um ano com uma avaliação abaixo que recomeça a contagem dos seis anos.
No caso dos investigadores, desde que entrou em vigor este novo modelo “nunca mais houve progressões, porque deixou de haver avaliações de desempenho”.
Os números do SNESup apontam que apenas 20 a 25% dos professores e investigadores tenham conseguido progredir.
O sindicato pretende que a atualização salarial e revisão do modelo de progressão sejam contempladas no próximo Orçamento do Estado e deixa um aviso: “Estes dois pontos não vão cair enquanto não forem satisfeitos”.
“Os professores vão começar a fazer-se ouvir nas próximas semanas”, alertou José Moreira, explicando que não se pode falar ainda em greves ou outros protestos uma vez que é preciso primeiro ouvir os trabalhadores.
O presidente do SNESup lamentou também a situação “ainda mais precária” dos professores e investigadores de instituições particulares ou cooperativos.
“Temos situações claramente vexatórias, em que os professores têm ordenados completamente ridículos”, disse, dando como exemplo casos de algumas instituições em que os vencimentos podem depender do número de alunos da turma: “Não é razoável nem digno”.