A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia recomendou esta quinta-feira que todas as pessoas façam, pelo menos uma vez na vida, o teste da hepatite C, lembrando a importância de Portugal atingir a meta de eliminar a doença até 2030.
Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial das Hepatites, que se assinala na sexta-feira, o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), Pedro Figueiredo, referiu que as estimativas apontam para a existência de cerca de 40 mil portugueses com o vírus da hepatite por diagnosticar.
"A hepatite C é uma doença silenciosa, por isso é que estão [tantos casos] por diagnosticar, e a possibilidade de que a hepatite evolua para situações mais graves de cirrose hepática e de cancro do fígado, ao longo de algumas décadas, existe. Se não for diagnosticada a tempo e tratada, essa evolução pode acontecer", explicou.
O que se recomenda - prosseguiu - "é que as pessoas façam o teste, designadamente através da medicina geral e familiar, pelo menos uma vez na vida".
O especialista lembrou que muitas das pessoas que nas consultas de gastrenterologia mostram valores alterados nas análises relativas ao funcionamento do fígado partilharam seringas na adolescência ou na juventude.
"Depois, reconstituíram a sua vida e não mantiveram hábitos de toxicodependência. Só muitos anos mais tarde, quando vão ao seu médico de família e, por uma razão qualquer, fazem as análises do fígado e essas análises chamam a atenção para a possibilidade de existir uma infeção pelo vírus da hepatite C", acrescentou.
Pedro Figueiredo salientou a importância da deteção precoce da infeção, frisando que a hepatite C, em mais de 97% dos casos, é curável.
"Hoje em dia, com um tratamento por via oral em comprimidos durante 8 a 12 semanas, (...) nós conseguimos, em mais de 97% dos casos, eliminar o vírus da hepatite", afirmou.
Questionado sobre se considera que Portugal tem condições para eliminar até 2030 o vírus da hepatite c -- a meta definida pela Organização Mundial da Saúde -, Pedro Figueiredo, que é igualmente diretor do serviço de gastrenterologia no Centro Hospitalar de Universitário de Coimbra, disse que, com a "consciencialização crescente das pessoas" e uma ação dirigida a populações como os toxicodependentes e reclusos, o país pode cumprir essa meta.
"Se nós também conseguirmos chegar a estas populações, penso que talvez consigamos alcançar esse objetivo de eliminar a hepatite C até 2030 em Portugal", afirmou.
Sobre o acesso à medicação, disse que não há dificuldade e lembrou que, há meses, era necessário registar a medicação num portal, mas até essa exigência desapareceu.
Referiu que se alguém demorar uma ou duas semanas a iniciar o tratamento, uma vez que a pessoa já estará infetada há dezenas de anos, tal não será problema.
"As pessoas que têm hepatite C crónica, normalmente, têm muitas vezes a doença há muitos anos. Portanto, mesmo que na sua instituição de saúde haja um atraso de duas ou três semanas no fornecimento do medicamento, não é isso que vai alterar nada", garantiu.
O período de tempo que faz diferença é o que medeia entre o contágio e o diagnóstico, sublinhou.
Pedro Figueiredo explicou que a hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser provocada por vários agentes, como os tóxicos - por exemplo, quando se come alguns cogumelos selvagens apanhados no monte.
"Há outras causas [da hepatite], relacionadas com a toma de medicação, com autoimunidade ou com doenças metabólicas ou, então, as hepatites causadas por vírus (A,B,C,D e E)", explicou, sublinhando que os mais importantes são os C e B. Os restantes são menos frequentes e não provocam doença tão grave.