Mais de 13 mil jogadores, num total de cerca de meio milhão registados nos sites de jogos online em Portugal, pediram para ser impedidos de jogar na tentativa de fugir a um vício que atinge sobretudo os jovens.
Há dois anos foi legalizada e exploração e a prática dos jogos e apostas online em Portugal. A primeira licença foi emitida a 25 de maio de 2016 e desde então 13,3 mil apostadores pediram "auto-exclusão", numa média de cerca de mil jogadores por mês, segundo dados do primeiro Relatório Actividade do Jogo Online em Portugal.
Para o coordenador do Instituto de Apoio ao Jogador (IAJ) e especialista em adições, Pedro Hubert, estes números revelam "a atracção que a sociedade tem pelo jogo" e por "este novo modo de jogar".
Mas - advertiu - apostar online representa "um risco grande", principalmente para os jovens, porque tem uma "série de atractivos", como ser "fácil, barato, cómodo e seguro e "estar "sempre disponível", que "favorece muito a adesão ao jogo".
Jovens são “população de risco”
Pedro Hubert explicou que os jovens são "uma população de risco" devido a uma "série de particularidades" que os caracterizam, como "a imaturidade, a impulsividade, a tomada de decisão e a ilusão de controlo".
Os dados que constam do relatório, publicado no site do Serviço de Regulação e Inspecção de Jogos (SRIJ) permitem constatar o interesse que os jovens têm por este modo de jogar.
Dos mais de 523 mil jogadores que estavam registados, a 31 de Março, nas quatro entidades licenciadas, 60% têm idades entre os 25 e os 44 anos. Destes, cerca de 40% têm entre 25 e 34 anos.
Os jovens com idades entre os 18 e os 24 anos representam quase 30% dos apostadores, refere o documento, segundo o qual mais de metade do total reside nos distritos do Porto, de Lisboa e de Braga.
Analisando o primeiro trimestre do ano, o relatório indica que neste período 4,3 mil jogadores - cerca de 2,2% do total - pediram auto-exclusão, um mecanismo que pretende "prevenir o jogo excessivo e evitar comportamentos e práticas aditivas".
Jogadores têm de ser informados sobre os riscos
"Nestes casos, a auto-exclusão até funciona, o problema é que depois vão jogar noutros sites não licenciados", disse, explicando que "o problema não está no jogo", mas na relação problemática que algumas pessoas têm com o jogo.
Para acautelar estas situações, as pessoas "têm de ser informadas sobre os riscos" que correm, sobre "as formas saudáveis de jogar" e os tratamentos que existem no caso de sentirem problemas, defendeu o especialista em jogo patológico.
Segundo Pedro Hubert, é este apoio que "tem faltado muito em Portugal", seja nos casinos ou nos sites agora licenciados.
"Ainda bem que [o jogo online] foi legalizado", mas "peca claramente pela componente do jogo responsável", disse, contando que há pessoas com problemas que nem sabem onde se dirigir.
A "partir do momento em que regulamentam a lei, também têm que dar as contrapartidas", sustentou.
Em 2016, segundo o relatório, foram apoiados 135 pessoas com problemas de jogo nos 15 Centros de Respostas Integradas, que funcionam junto das Administrações Regionais de Saúde.
Desde a entrada em vigor do Regime Jurídico dos Jogos e Apostas Online, em 29 de Junho de 2015, foram notificados 220 operadores ilegais para encerrarem a sua actividade em Portugal, enviadas 146 notificações aos prestadores intermediários para bloquearem os sites e feitas nove participações ao Ministério Público para instauração de processos-crime.
Apesar das notificações, os operadores continuaram a disponibilizar jogos e apostas 'online' em Portugal.
O mercado português encontra-se actualmente repartido por quatro entidades exploradoras, às quais foram emitidas seis licenças.
Entre Janeiro e Março, a receita bruta gerada foi superior a 13,9 milhões de euros, um aumento de quase 50% face ao último trimestre de 2016 (cerca de 4,6 milhões).